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Famílias acusam instituição de ensino especial de fechar a porta a jovens com necessidades

Uma instituição de ensino especial em Setúbal estará a recusar-se a receber de volta jovens com necessidades. A SIC tentou obter respostas por parte do externato, mas sem sucesso.

Joana Rita de Almeida

Rodrigo Rimourinho

Francisco Barreto

João Lúcio

Ana Rita Sena

Era para ter sido um domingo como todos os outros. A família ia ao externato “Rumo ao Sucesso” em Brejos de Azeitão, no concelho de Setúbal, buscar o simão por algumas horas, mas a instituição informou-os que aquela já não era casa para o jovem.

“A meio do passeio, passado cerca de uma hora, liga-nos uma doutora do colégio a dizer que já não vão receber o Simão de volta, que ele não voltava a entrar no Externato. Retomámos ao colégio, tentámos fazer imensas chamadas e o que nos disseram é que nunca podiam abrir a porta, esta informação foi-nos dada pelo porteiro, pedimos para falar com alguém da direção, essa pessoa nunca apareceu. Entretanto acionamos a GNR e foi-nos dito que não havia nada que pudessem fazer, que não podiam abrir a porta”, relembra Inês Madeira, familiar de Simão Gonçalves.

Acabaram por receber, do porteiro, apenas um saco com a medicação diária, as receitas e os documentos. Os restantes pertences ainda não foram devolvidos. O Simão, de 20 anos, é autista. Não fala e segundo a última avaliação médica tem 70% de incapacidade. “É um menino que tem muitos comportamentos agressivos com a mãe e com a avó que era com quem ele habitava. Nos momentos em que ele tem crises, são necessários cinco enfermeiros e médicos para o segurar, para o conter", explica Inês.

Esta era a morada do Simão, há oito anos, depois de um longo processo. A medida de acolhimento foi decretada pela comissão de proteção de menores de Odivelas. Quando fez 18 anos, e devido ao grau de incapacidade, a família iniciou o processo de maior acompanhado para poder tomar as decisões de acordo com os direitos e deveres do Simão e foi a partir daí que começaram as pressões para que encontrassem outra instituição.

“No início do ano é que, durante as visitas, começaram a dizer que o Simão já era maior de idade e que talvez devêssemos procurar uma solução. Estávamos descansados porque tínhamos falado com o tribunal de Setúbal, tinhamos falado com advogados, e toda a gente nos garantiu que eles não poderiam tomar essa decisão”, explica Inês Madeira.

Não é a primeira vez que o externato recusa o regresso de utentes sem aviso formal

A filha de Edite foi comemorar o aniversário em casa no mês de julho e a partir desse dia as portas fecharam-se e não pôde lá voltar. “Trouxe medicação para meia dúzia de dias, trouxe roupa só para dois dias, e no dia 24 estávamos na festa de anos da Bruna quando me telefonaram da Rumo ao Sucesso a dizer que a Bruna não entrava mais.”

Edite já leu e releu o regulamento interno, mas ainda não percebe os motivos da expulsão. Foca-se na alínea que determina que a frequência destes alunos, apesar de transitória, mantém-se até que seja encontrada alternativa. Para a filha Bruna, que tem 90% de incapacidade e precisa de vigilância constante, não foi o caso.

“Eles nunca me notificaram que a Bruna tinha que sair da instituição e foi-me inclusivamente confirmado, numa reunião que tive com o advogado e com a direção da Rumo ao Sucesso em 2023, em março de 2023, continuaram-me sempre a dizer que ela iria ficar até aos 24 anos”,

"Ninguém quer prestar declarações"

Esta quinta-feira, depois de vários pedidos de esclarecimento sem resposta, a SIC voltou a Brejos de Azeitão. A visita não foi bem recebida. Por 3 vezes uma das carrinhas do externato fez rasias a alta velocidade junto à equipa de reportagem. A porta nunca se abriu e o contacto telefónico, teve o resultado de sempre: "ninguém quer prestar declarações”, disse a instituição ao telefone.

Pedimos explicações à CPCJ de Odivelas que diz que em Março remeteu o processo ao Ministério Público do Tribunal de Setúbal por indisponibilidade de meios: “cumpre-nos informar que em março esta CCPJ remeteu o processo ao Ministério Público do Tribunal de Setúbal por indisponibilidade de meios. Assim, o processo é acompanhado pelo tribunal”, lê-se na resposta.

O Tribunal de Setúbal respondeu que não pode ser prestada qualquer informação sobre o processo: “consigna-se que não será prestada qualquer informação nem poderão ser facultados elementos atinentes ao presente processo atento o caráter reservado dos presentes atos”, lê-se na resposta.

O Simão entrou em descompensação. Está internado na ala psiquiátrica do Hospital de Setúbal. A Bruna mantém-se em casa depois de vários episódios de sobressalto. Com as vidas em suspenso, as famílias não sabem mais o que fazer. Desesperadas, aguardam pela justiça e por alternativas.

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