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Uma “tabela de preços do sofrimento”: vítimas de abusos criticam forma escolhida pela Igreja para compensações

Associação que representa as vítimas defende um tratamento igual para todos os sobreviventes. Nesta altura, está definido que cada indemnização será avaliada “caso a caso”.

Tetra Images/Getty Images

Rita Carvalho Pereira

A Associação Coração Silenciado, que representa as vítimas de abuso na Igreja Católica, contesta o critério dos bispos portugueses para atribuição de "compensações financeiras". A associação fala numa “tabela de preços do sofrimento”, em que é avaliado caso a caso o dano provocado.

Depois de ter estado reunida com a presidência da Conferência Episcopal Portuguesa, a associação expõe críticas à forma e ao método escolhidos para a atribuição das compensações financeiras às vítimas. A associação contesta que as vítimas tenham de expor os casos individualmente, explicando os tipos de abuso de que foram alvo. Considera que isso será uma “revitimização” para quem já sobreviveu a esta realidade.

“É preciso evitar, de uma vez por todas, a revitimização dos sobreviventes, o "remexer nas memórias", pois o processo, como neste momento está estabelecido, determina que cada sobrevivente tenha de redigir uma carta a indicar, de forma sucinta, o abuso que sofreu, quando isso já consta no processo de denúncia.”

Apesar de assinalarem a evolução feita pela Igreja, que já concordou em atribuir compensações financeiras (depois de, no passado, ter chegado a afirmar que estas seriam “insultosas”), as vítimas discordam que estas sejam concedidas a partir de um "cálculo da 'qualidade' dos traumas”.

“Ao termos de justificar à nova comissão, criada para avaliar o impacto que o abuso teve nas nossas vidas, seremos então mais um número sem rosto, sujeitos a uma "tabela de preços" do sofrimento”, lamentam.

A Associação Coração Silenciado considera que todas as vítimas deveriam ter um tratamento igualitário (sublinhando que o princípio da Igreja é "amai-vos uns aos outros", e não "amai-vos uns aos outros, mas mais uns do que outros").

A associação lamenta também que já tenham sido destruídos todos os dados do relatório feito pela comissão independente, afirmando ser “frustrante” saber que o trabalho da comissão não teve como objetivo “ajudar e acompanhar as vítimas”.

É ainda pedido que a Igreja fale a uma só voz e que divulgue “de forma simples e clara”, através de uma campanha nos meios de comunicação social, os contactos necessários para que todos aqueles que pretendem ser compensados sejam incluídos.

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