A Segurança Social encerrou, há dois anos, um lar em Palmela por negligência. Delfina Cruz foi uma das utentes que viveu nesse mesmo lar, depois de um incêndio ter atingido o apartamento onde vivia com a enteada.
Rosa Magro, enteada de Delfina Cruz, explica o porquê de ter colocado a madrasta num lar.
"Derivado a esse incêndio, a Delfina teve pequenos AVC que fez com que perdesse o andar. Eu para tratar dela era difícil, precisava de trabalhar, éramos só as duas. A maneira que eu achei que iria ser uma forma de poder continuar a trabalhar foi metê-la num lar."
Na procura de um lar para a madrasta, Rosa Magro deparou-se com longas listas de espera. Sem alternativa, decidiu colocá-la no Refúgio Fascinante. Pagava 750 euros mensalmente para Delfina estar no lar.
"Eu sabia que ela não tinha o lar legal, mas ela sempre me disse que tratava das coisas e deu sempre a entender que as coisas eram como devem ser, e eu acreditei"
Quando Delfina entrou no lar, em outubro de 2020, o país estava em confinamento e as visitas eram proibidas. Rosa garante que telefonava todos os dias para o lar, mas que nunca lhe permitiram fazer videochamadas para ver a madrasta.
Passaram dois meses. Rosa não aguentou mais e decidiu deslocar-se ao lar para ver Delfina. Foi nessa visita que se deparou com o estado da madrasta.
“O que vi foi ela sonolenta e com uma ferida na boca, deu para perceber que tinha os lábios secos. Também deu para perceber que havia qualquer coisa que não estava bem. Vi-a com a cabeça num estado que nunca tinha estado, parecia que tinha uma garrafa de óleo enfiada na cabeça”
Rosa demonstrou descontentamento e ficou a garantia de que iriam ter mais atenção. Seis dias depois, recebeu um telefonema da responsável da instituição a informar que a idosa tinha sido levada para o Hospital de São Bernardo, em Setúbal.
No hospital, Rosa foi informada de que os problemas de saúde de Delfina estavam relacionados com excesso de medicação.
Quando teve alta, a madrasta regressou ao lar e foi nessa altura que a enteada começou a receber fotografias de uma funcionária, onde era possível ver o corpo da idosa com ferimentos, reveladoras de negligência e falta de higiene.
“O pior cenário que alguém pode imaginar, ela parecia que estava drogada, cheia de marcas, tinha as costas todas marcadas. Parecia que ia abrir toda, estava completamente marcada. O lado esquerdo então, até a perna estava negra.”
Depois dos incidentes, Rosa retirou-a imediatamente do lar. No dia em que trouxe a idosa para casa, apresentou queixa na GNR de Palmela.
Sete meses depois, recebeu uma carta da Segurança Social a informar que o lar tinha sido encerrado porque estava ilegal.
À SIC, a proprietária confirmou o encerramento do lar e informou que tem mais dois, ambos ilegais, e os dois com o mesmo nome daquele que foi encerrado, Refúgio Fascinante.
O Instituto de Segurança Social esclarece que estes dois lares foram "alvo de ações de fiscalização (...) e que foram abertos processos de contraordenação".
Um dos processos está concluído e na resposta da Segurança Social pode ler-se que a proprietária foi ainda notificada da “interdição de exercício de funções por ter sido constatada a ilegalidade dos equipamentos”.
No entanto, os dois lares continuam abertos. A SIC voltou a contactar a proprietária, que inicialmente concordou em dar uma entrevista gravada, mas foi sucessivamente adiando a data da mesma.