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"Precariedade mata a ciência": investigadores manifestam-se em Aveiro

Os manifestantes reclamam que sejam encontrados "mecanismos" de transferência de verbas para as universidades para que estas possam integrar os investigadores na carreira e dar-lhes "um contrato estável". De acordo com os investigadores, não nenhum setor com mais precários que este no país.

SIC Notícias

Lusa

Cerca de 50 investigadores protestaram esta quarta-feira em Aveiro, onde decorre o Encontro Ciência 2023 com a presença do primeiro-ministro, contra a falta de respostas do Governo relativamente à regularização dos vínculos destes profissionais.

O protesto organizado pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), em conjunto com organizações e núcleos de investigadores de todo o país, aconteceu junto à reitoria da Universidade de Aveiro (UA).

"Concursos mais concursos, não aguentamos mais. Queremos o mesmo que outros profissionais" ou "Governo escuta, a ciência está em luta" foram algumas das palavras de ordem ouvidas no local.

Nos cartazes, lia-se "Queremos excelência, tratem-nos com decência" ou "Precariedade mata a ciência".

Em declarações à Lusa, Miguel Viegas, da Fenprof, explicou que o objetivo desta ação é reivindicar que os investigadores que tenham vínculos precários há vários anos sejam integrados na carreira.

"Muitos deles são contratados por projeto e quando acaba o projeto não sabem qual é o seu futuro. Muitos deles foram contratados por seis anos, que estão a acabar, e eles não podem ser condenados a outro ciclo de precariedade", disse o dirigente sindical.

Os manifestantes reclamam que sejam encontrados "mecanismos" de transferência de verbas para as universidades para que estas possam integrar os investigadores na carreira e dar-lhes "um contrato estável".

Segundo Miguel Viegas, existem cerca de quatro mil investigadores em situação precária em todo o país, o que corresponde a cerca de 90% destes profissionais.

João Moreira, do Sindicato Nacional do Ensino Superior, disse que "não há nenhum setor no país que tenha este número de precários", adiantando que "estas pessoas têm grandes problemas de saúde mental, porque vivem numa contínua incerteza".

"Não é razoável que as pessoas não tenham possibilidades de desenvolver um plano de vida e que possam ter a mesma expectativa que qualquer cidadão deste país tem. A investigação científica não pode continuar a viver fora da lei do país, fora da norma do país. Estas pessoas querem ter vidas, têm direito a ter vidas. Portanto, tem que se resolver este problema rapidamente", concluiu.

Promovido pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, em colaboração com a Ciência Viva e a Universidade de Aveiro, o Encontro Ciência 2023, que acontece pela primeira vez fora de Lisboa, decorre de 5 até 7 de julho, com o tema "Ciência e Oceano para além do horizonte".

Além de António Costa, o encontro, que reúne peritos e investigadores de diferentes áreas científicas, conta com a presença dos ministros da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, do Ambiente e da Ação Climática, da Economia e do Mar e da Agricultura e Alimentação e será encerrado pelo Presidente da República.

Confronto entre protestantes e Costa

No âmbito do protesto, há alguns investigadores que conseguem interpelar António Costa à saída do evento Encontro Ciência 2023 em Aveiro e pedem mais financiamento.

“Cerca de 90% dos investigadores em Portugal estão com vínculos precários a trabalhar nas mesmas Instituições há muitos anos. Aquilo que nós queremos é uma resposta concreta e definitiva a nossa situação”, diz uma senhora.

Do outro lado, um senhor confronta o primeiro-ministro e pede transferência de dinheiro para os investigadores.

“A situação precária dos dos trabalhadores científicos e por um melhor sistema científico e tecnológico nacional. Agora, o que falta é em vez de ser para a RTP é transferir dinheiro aqui ao senhor reitor para ele poder contratar os investigadores e integrá-los na carreira”, conclui.

Perante as interpelações, o primeiro-ministro responde sobre os diplomas que já vão ser aprovados e revela que o Conselho de Ministros desta quinta-feira vai aprovar medidas para negociação sindical.

“Há um diploma que entra em vigor no final deste ano que procurou precisamente prevenir e alargar aos bolseiros um conjunto de direitos próprios das relações laborais que era muito importante e permitiu encontrar este quadro de transição”, refere.

Mais. “Amanhã no Conselho de Ministros” vai ser aprovado para “negociação sindical, para negociação com as instituições do sistema científico um novo estatuto da carreira de investigação”.

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