“Santo António já se acabou”, como nos conta o poema. Só que antes de chegar a vez de São Pedro, há à espreita uma noite de São João que se estende até ser dia e que é preciso enfrentar. Ponto final nas rimas, a uma semana da grande festa, fica a certeza de que o Porto já prepara a todo o gás a sua “noite mais longa do ano”.
Para manter toda a cidade acordada, recupera-se a receita do ano passado, com três palcos nos Jardins do Palácio de Cristal, no Largo do Amor de Perdição (bem perto da Torre dos Clérigos) e na Praça da Casa da Música. Quem quiser cirandar entre espetáculos pode contar com o Metro do Porto aberto toda a noite, como também vai sendo já tradição.
Nos três pontos, os concertos - “com propostas para todos os gostos”, promete a organização - arrancam pelas 22:00 de sexta-feira, dia 23, e a música só se cala às 04:00 de sábado, 24, dia de São João. Melhor, é revelar o cartaz:
- Largo do Amor de Perdição: Cláudia Martins & Minhotos Marotos (22:00), Emanuel (depois das 00:00) e DJ Alberto Rocha.
- Jardins do Palácio de Cristal: Miguel Araújo (22:00), banda Fogo Fogo (depois das 00:00) e DJ Paulo da Cunha Martins.
- Praça da Casa da Música: David Bruno & Convidados e um concerto e DJ set de Moullinex.
À meia-noite certa, ilumina-se a Ribeira do Porto e de Vila Nova de Gaia com 15 minutos do tradicional fogo de artifício, num investimento dos dois municípios, junto à Ponte Luís I, cujo tabuleiro inferior volta a permitir a circulação pedonal após obras de requalificação (interdita entre as 23:00 e a 01:30, devido ao lançamento de foguetes do tabuleiro superior).
Findo o espetáculo de pirotecnia é tempo de mais uma tradição entrar em cena e da Ribeira do Porto sai um desfile da Batucada Radical, grupo do Porto que junta 120 músicos. Vão percorrer 2,5 quilómetros do coração da cidade e só param de fazer soar os tambores em Massarelos.
No sábado, às 18h00 e com entrada livre, há concerto de São João para ouvir, pela Banda Sinfónica Portuguesa, no coração dos Jardins do Palácio de Cristal.
O programa estende-se também a todas as freguesias do concelho e, a 1 de julho, para encerrar a festa as rusgas - marchas populares do Porto - tomam conta das ruas. O percurso começa às 18h00, na rua de Passos Manuel, e termina com uma atuação final frente à Câmara Municipal, nos Aliados.
Toda esta festa, adiantou a autarquia, implicou um orçamento de 615 mil euros.
“Sobe, sobe, balão sobe” e os aviões ficam em terra
Os balões de ar quente vão também voltar a brilhar no céu do Porto, como em tantas outras noites de São João, mas com regras definidas pelas autoridades, que obrigam até ao encerramento do espaço aéreo da cidade, por razões de segurança.
Assim o lançamento de balões só será permitido entre as 21:45 de sexta-feira e a 01:00 de sábado, alertou a Câmara do Porto.
À semelhança de anos anteriores, a Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) vai "fechar o espaço aéreo da cidade durante o período previsto de maior intensidade de lançamento" de balões.
A autarquia sublinha que o lançamento dos balões de São João pode "originar situações de perigo para a navegação aérea", como o risco de colisão com aeronaves.
Já a ANAC explica que esta tradição tem os seus riscos, já que os balões podem "percorrer uma distância horizontal considerável" face ao ponto de largada e "atingir alturas imprevisíveis em função dos ventos predominantes", o que "aumenta a possibilidade de serem sugadas pelos motores das aeronaves, podendo causar incidentes graves ou acidentes".
Martelinhos há muitos e alho-porro também
Mesmo quem nunca lá esteve os reconhece. Os martelinhos de São João, coloridos e com apitos prontos a chiar a cada ‘cumprimento’, são já um dos símbolos do São João, no Porto e não só. A pontaria é feita à cabeça e a inspiração… veio de um conjunto de saleiro e pimenteiro.
Criados em 1963, nasceram das mãos do industrial Manuel António Boaventura, da Fábrica Estrela do Paraíso, em Rio Tinto, que foi desativada em 2012. Era suposto ser mais um brinquedo de plástico, cuja inspiração foi buscar numa das suas viagens além-fronteiras. Por lá viu um saleiro e pimenteiro, com o aspeto de um fole. Adicionou-lhe o apito e um cabo e os estudantes universitários viram ali o que procuravam: um brinquedo ruidoso para a Queima das Fitas.
Da Queima para o São João, foi o martelinho passando de mão em mão e a tradição de seis décadas chega aos dias de hoje em (e com ) força, que o digam os foliões cujas cabeças os encontram.
Os martelinhos encontraram o seu espaço na festa, roubando um pouco do protagonismo do alho-porro, que não deixa de marcar presença. Também ele serve para atingir cabeças, com menos impacto e ruído é certo.
O historiador Germano Silva, especialista de histórias e costumes do Porto, desvendou, em parte, o mistério de uma tradição que é mais antiga até que o São João: o alho-porro serve para proteger do mau olhado e da inveja quem a cabeça toca. Talvez por isso, mesmo com a concorrência plástica e mais duradoura dos martelinhos, tenha ficado na sombra, mas nunca saído de cena.
[alterado para corrigir os dias da semana: sexta-feira, dia 23, e sábado, dia 24]