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Noticiários televisivos têm tendência para justificar agressor de violência doméstica

Os noticiários televisivos em canal aberto têm tendência para justificar o comportamento de um agressor e procurar as causas da violência doméstica, revela um estudo da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

No estudo "Representações da Violência Doméstica nos telejornais de horário nobre" foram analisadas 432 peças transmitidas na RTP1, RTP2, SIC e TVI entre 2013 e 2015.

Em 65% dessas notícias são apresentadas possíveis justificações para o crime: "o fim de uma relação", "um relacionamento conflituoso", "ciúmes", "infidelidade", entre outras. O que, além de simplificar o crime e justificar o comportamento do agressor, ainda coloca a responsabilidade da agressão na vítima, alerta o relatório.

Poucas são as vezes em que a vítima de violência doméstica é de facto apresentada. "Explicar as dificuldades das vítimas quando tentam acabar uma relação permitiria fazer uma abordagem mais correta e evitaria falsas crenças ou mitos como 'a mulher merece ser agredida' porque não pôs um fim à violência", refere a ERC citada pelo jornal Público.

Outro mito muitas vezes reforçado com considerações como uso de álcool ou drogas é a de que a violência doméstica é característica de um estrato social mais baixo, quando na realidade "atravessa vários grupo sociais e culturais".

Um crime na esfera da desigualdade de género

Segundo a ERC, apenas uma em cada três notícias enquadra o problema no âmbito mais vasto da desigualdade de género. Porque a violência doméstica não é um qualquer crime violento, mas sim "um problema social com origem no desiquilíbrio das relações de poder entre homens e mulheres".

O regulador recomenda por isso que as notícias façam essa abordagem mais ampla e seja dada voz às vítimas, não apenas às especulações dos "vizinhos".

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