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Escolas inflacionam notas internas para compensar notas de exame

O Conselho Nacional de Educação (CNE) acusou  as escolas de promoverem práticas como a inflação de notas dos alunos para  não prejudicar os resultados das classificações e facilitar a entrada no  ensino superior.  

Estudantes a fazer exame
Reuters

Na introdução do relatório Estado da Educação 2013, hoje divulgado pelo  CNE, o presidente deste órgão consultivo do Ministério da Educação e Ciência  (MEC), David Justino, identificou algumas práticas de escolas que levam  os seus alunos a exames finais, sobretudo os do ensino secundário, fundamentais  para o ingresso no ensino superior.  

 "Quanto à avaliação interna raramente é motivo de crítica ou de polémica.  E nem por isso o pouco que se consegue saber nos permite manter o silêncio",  declara o também ex-ministro da Educação.  
  
A primeira preocupação identificada prende-se com as escolas que "tendem  a aumentar a retenção dos alunos de forma a não fazer baixar as médias das  classificações de exame", ou seja, evitando levar às provas finais aqueles  que não estarão capazes de garantir bons resultados.  
  
A outra preocupação tem que ver com a inflação das notas internas (resultantes  do trabalho desenvolvido ao longo de todo o ano), tanto pela positiva, como  pela negativa.  
  
David Justino defende que é tão preocupante o caso das escolas que baixam  a exigência e nivelam a avaliação interna 'por baixo', ajustando os critérios  ao perfil dos alunos, com tendência a favorecê-los nesta componente da avaliação,  como o caso das escolas que elevam demasiado os seus padrões de exigência  e, dessa forma, "prejudicam os seus alunos por atribuírem uma classificação  muito inferior ao que os alunos merecem".  
  
"O problema não seria grave se esta prática não tivesse consequências  diretas. No caso do ensino secundário, essa classificação poderá ditar a  entrada ou a exclusão em alguns cursos do ensino superior. Coloca-se portanto  uma questão de justiça. Seria aconselhável que o MEC tentasse identificar  estes casos e agisse em conformidade", recomenda o presidente do CNE.  
  
Justino revela ainda "sérias preocupações" com os resultados dos exames  do 1. ciclo.  
  
 "Não é normal um tão elevado número de classificações negativas logo  na primeira avaliação naquele que é o ciclo decisivo das aprendizagens estruturantes  do conhecimento. Ou os testes não estavam devidamente calibrados ou a qualidade  das aprendizagens no primeiro ciclo carece de atenção redobrada nos próximos  anos para apurar se estamos perante um facto isolado ou perante um padrão  estável", alerta.  
  
O presidente do CNE entende que o "principal desafio" do sistema de  exames introduzido é o de "ganhar credibilidade junto da opinião pública  e dos agentes educativos", a par de garantir uma "estabilidade de critérios  que permita a comparabilidade entre anos".  
  
"Só assim poderíamos avaliar até que ponto as aprendizagens progridem  ou regridem. Tem sido feito um esforço assinalável no sentido de ganhar  essa credibilidade e de garantir a estabilidade de critérios, sem que entretanto  o tema consiga isolar-se do mediatismo e das consequentes polémicas", defendeu. 
  
Justino deixa ainda elogios aos progressos do país nas avaliações internacionais  dos alunos e do sistema de ensino nacional, referindo que "os resultados  alcançados colocam Portugal mais perto da média da OCDE, quando outros domínios  da atividade nacional dificilmente se aproximam dessa posição".  
  
Lusa

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