A produçãop envolve também "The other face", a banda rock da casa, e a "Ala dos Afinados", o coro interno criado para o efeito pelo Serviço Educativo da Casa da Música.
Hugo Cruz, que assina a conceção e direção artística do projeto, define-o como "um trabalho muito especial que se desenvolve em torno do binómio culpa e perdão", e que explora "até que ponto cada pessoa pode estar, ela própria, dentro de uma cadeia".
O espetáculo concentra-se assim na condição do "entrado", termo que na gíria prisional se aplica ao indivíduo acabado de chegar ao cárcere, e proporciona ao público o contacto com diferentes espaços da cadeia, no que o objetivo do encenador é "desmistificar a versão urbana segundo a qual estar numa prisão ou é um terror, ou é como viver num hotel".
"O espetáculo acaba por ser o resultado de uma catarse coletiva sobre o erro e o perdão", afirma Hugo Cruz. "Fala da fragilidade do ser humano e do facto de que qualquer pessoa pode, quando menos espera, cometer um ato que não devia, pelo que há uma fronteira muito ténue entre aqueles que estão dentro das grades e os que estão do lado de fora".
Reclusos poderão vir a criar grupo de teatro
"Entrado" é uma produção do PELE - Espaço de Contacto Social e Cultural, em parceria com o Centro de Criação para o Teatro e Artes de Rua.
O projeto começou a ser desenvolvido em Setembro e envolve todos os reclusos que se disponibilizaram para partilhar as suas experiências pessoais com vista à redação do enredo e à sua posterior interpretação.
Hugo Cruz revela que nenhum desses artistas é profissional, mas realça que todos eles "demonstraram uma abertura e generosidade incríveis em todo o processo".
Acredita, por isso, que este será o primeiro passo no sentido da dinamização de um grupo de teatro que permita aos reclusos de Custóias questionar o impacto da sua condição na sociedade e assim agilizar a sua reintegração social.
Com exceção para o espetáculo no Estabelecimento Prisional de Custóias, cujas três exibições estão esgotadas há já 15 dias, o Imaginarius decorre de quinta a sábado sempre em Santa Maria da Feira.
O programa do festival integra mais de 60 espetáculos de rua por cerca de 50 companhias nacionais e estrangeiras, sempre a partir das 17h00 e com entrada livre.
Lusa
(Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)