Opinião

Compreender o conflito: a Rússia ataca de novo

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Efrem Lukatsky/AP

Germano Almeida

1 – RÚSSIA VOLTA A ATACAR COM PELO MENOS 18 MISSEIS ODESSA, KIEV, DNIPRO E CRIMEIA

Odessa, Kiev e Crimeia foram alvos de ataques com mísseis esta quinta. Também foram ouvidas explosões em Dnipro, que tem sido alvo de cortes de energia.

Pelo menos quatro mortos na região de Zaporíjia após ataque noturno. Kremlin diz que não consegue imaginar negociações públicas com Kiev, mas pretende que os EUA encorajem a Ucrânia a iniciá-las.

2 -- STOLTENBERG: "ESTA GUERRA PROVAVELMENTE VAI TERMINAR NA MESA DE NEGOCIAÇÕES”

O secretário-geral da NATO disse à BBC que, “em algum momento, esta guerra provavelmente vai terminar na mesa de negociações”, frisando que cabe à Ucrânia decidir quando é o momento para iniciar esse processo. “Todos nós queremos paz e uma solução negociada”, referiu Stoltenberg, reconhecendo, no entanto, que “se a Ucrânia parar de lutar, então deixará de existir como uma nação independente e soberana”.

O ministério da Defesa do Reino Unido acusa a Rússia de ter levado a cabo o maior número de ataques num dia, desde o início da guerra, na terça-feira. “Durante a tarde de 15 de novembro, a Rússia levou a cabo até 80 ataques com mísseis de longo alcance, sobretudo contra alvos de infraestruturas de energia na Ucrânia. Este é provavelmente o maior número de ataques por parte da Rússia num único dia desde a primeira semana da invasão; munições foram lançadas a partir de plataformas aéreas, marítimas e terrestres. Embora uma grande proporção de mísseis tenha sido intercetada com sucesso, a Ucrânia enfrenta uma diminuição significativa da força disponível na sua rede nacional. Isso terá impacto no acesso dos civis às comunicações, aquecimento e abastecimento de água”.


3 – GUTERRES CONFIRMA PROLONGAMENTO DO ACORDO DE EXPORTAÇÃO DE CEREAIS

O secretário-geral da ONU, António Guterres, confirmou nesta quinta-feira que todas as partes concordaram em prolongar o acordo de exportação de cereais do Mar Negro, negociado pela ONU, com o objetivo de aliviar uma crise alimentar global. "Saúdo o acordo de todas as partes para continuar a Iniciativa de Cereais do Mar Negro para facilitar a navegação segura de exportação de cereais, alimentos e fertilizantes da Ucrânia", escreveu Guterres no Twitter. "A iniciativa demonstra a importância da diplomacia na busca de soluções multilaterais.

O ministro das Infraestruturas ucraniano, Oleksandr Kubrakov, assegurou que o acordo para a exportação de cereais ucranianos pelo Mar Negro será prolongado por mais 120 dias. No Twitter, Kubrakov indicou que o prolongamento é possível graças a Volodymyr Zelensky, ao secretário-geral da ONU, António Guterres, ao Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, e ao ministro da Defesa turco, Hulusi Akar; Kubrakov acrescenta que a Ucrânia apelou “oficialmente” a uma proposta de extensão do acordo por um ano e a inclusão do porto de Mykolaiv

Na cimeira do G20, Erdoğan já tinha defendido o prolongamento do acordo, que permite fazer chegar alimentos essenciais aos países mais pobres. “Sou da opinião de que [o acordo] deve continuar. Não há problema aí”, afirmou. A Turquia, juntamente com a ONU, têm atuado como mediadores entre a Rússia e a Ucrânia. Sem renovação, o acordo chegaria ao fim no sábado. A Rússia chegou a suspender o acordo em outubro, justificando com alegados ataques da Ucrânia à frota marítima, mas no início de novembro acabou por retomá-lo. Moscovo tem-se queixado de que o acordo permite a exportação de cereais ucranianos, mas numa altura em que os cereais e fertilizantes da própria Rússia enfrentam restrições nos mercados mundiais.


4 – ZELENSKY DIZ QUE A UCRÂNIA É "TRANSPARENTE” E DEVE FAZER PARTE DA INVESTIGAÇÃO À QUEDA DE MÍSSEIS NA POLÓNIA

O Presidente da Ucrânia voltou a garantir que os mísseis não foram lançados pelas tropas ucranianas. Numa conferência de imprensa, Zelensky pediu provas dessa alegação e sublinhou que Kiev deveria fazer parte da investigação do incidente. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse nesta quinta-feira que os Estados Unidos estão “a partilhar as informações" obtidas com a Ucrânia, acrescentando que todos os parceiros – EUA, NATO, Polónia e Ucrânia – têm “o compromisso de seguir os factos”.

“Temos mantido contacto regulares com os nossos parceiros ucranianos”, disse Blinken em conferência de imprensa. “Estamos a partilhar as informações de que dispomos."

Blinken reiterou que a investigação está em curso, mas os EUA “não viram nada até agora que contradiga a avaliação preliminar do Presidente polaco, de que terá sido um míssil de defesa antiaérea ucraniano a atingir a Polónia".


5 – ANALISTAS RUSSOS ACUSAM UCRÂNIA TERÁ PREMEDITADO O DISPARO DO MÍSSIL QUE ATINGIU A POLÓNIA PARA ARRASTAR A NATO PARA O CONFLITO

Vladimir Skatchko, jornalista e historiador ucraniano, convidado do programa televisivo do Primeiro Canal "Grande Jogo", consagrado à análise dos acontecimentos do dia, aventou que o míssil que atingiu solo polaco seria de um modelo ultrapassado dos tempos da União Soviética. "As forças ucranianas continuam a utilizar armamento soviético tecnicamente ultrapassado. Os mísseis mais modernos destroem-se no ar quando vão falhar o alvo, o que não aconteceu com este, que se abateu numa zona agrícola e explodiu", disse Skatchko.


6 – EMBAIXADORA EUA NA ONU: “TRAGÉDIA NA POLÓNIA NÃO TERIA ACONTECIDO” SEM ATAQUES RUSSOS

A embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse hoje que a “tragédia” na Polónia, atingida na terça-feira por um míssil de fabrico russo, “nunca teria acontecido” sem os bombardeamentos russos contra infraestruturas civis ucranianas. Numa reunião do Conselho de Segurança sobre a situação na Ucrânia, a diplomata dos Estados Unidos começou por destacar “a trágica explosão que matou duas pessoas na Polónia”, perto da fronteira ucraniana, oferecendo apoio e assistência à investigação, "para determinar exatamente o que aconteceu". "Temos total confiança na investigação do governo polaco e apreciamos a resposta calma, cuidadosa e comedida”.

Na mesma linha, o Secretário da Defesa dos EUA, General Lloyd Austin, aponta: "Não vimos nada que contradiga que esta explosão provavelmente foi provocada por um míssil de defesa aérea ucraniano". Também a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Adrienne Watson, referiu:“Independentemente das conclusões finais da investigação, é óbvio que a Rússia é a parte responsável por este trágico incidente. Lançaram uma série de mísseis contra as infraestruturas civis da Ucrânia”, sublinhou acrescentando que a Ucrânia tinha “todo o direito de se defender” desses ataques.


7 – UCRÂNIA LANÇA MANDATO DE BUSCA E CAPTURA DE LÍDER CHECHENO

Os Serviços de Segurança da Ucrânia (SBU) lançaram um pedido de busca e captura do líder da Chechénia, Ramzan Kadirov, considerado um dos homens fortes do Presidente russo, Vladimir Putin. Em agosto, as autoridades ucranianas acusaram Kadyrov de levar a cabo uma "guerra agressiva" e de tomar "ações deliberadas para mudar as fronteiras do território da Ucrânia". Agora, os serviços de segurança ucranianos atualizaram o seu banco de dados e adicionaram uma foto do líder checheno, alegando que ele se escondeu das autoridades, na fase de investigação pré-julgamento". Se vier a ser capturado e julgado, ao abrigo da lei ucraniana, Kadyrov pode ser condenado a uma pena de 10 a 15 anos de prisão.

8 – EUA ACREDITAM QUE INVERNO FAVORECERÁ FORÇAS MILITARES UCRANIANAS

O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, defendeu que a chegada do inverno poderá favorecer as tropas ucranianas, no combate contra a invasão russa, iniciada no final de fevereiro. Austin explicou que o Exército ucraniano está mais preparado, hoje, para as condições impostas pelo inverno do que as tropas russas, lembrando que Kiev tem tido a ajuda “muito generosa” dos países aliados, que recentemente anunciaram o envio de agasalhos e equipamentos para enfrentar esta época do ano. "Por outro lado, o exército russo está a lutar num país estrangeiro. Os ucranianos tornaram as suas rotas de abastecimento problemáticas. Será difícil para as forças russas conseguir o equipamento necessário para uma guerra nestas condições", disse o responsável pela pasta da Defesa norte-americana.

A probabilidade de uma vitória militar ucraniana, expulsando os russos de toda a Ucrânia, incluindo a Crimeia, a probabilidade de isso acontecer em breve não é muito alta, militarmente", comentou o chefe do Estado-Maior dos EUA, general Mark Milley, durante uma conferência de imprensa, ao lado do secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin. Milley classificou ainda como “crime de guerra” os ataques com mísseis russos que atingiram infraestruturas elétricas na Ucrânia, na terça-feira. O Kremlin diz que continuará a guerra independentemente das condições climatéricas – e já neva na Ucrânia.


9 – FINLÂNDIA QUER GASTAR 139 MILHÕES DE EUROS PARA CONSTRUIR CERCAS NA FRONTEIRA COM A RÚSSIA

A Finlândia, que apresentou candidatura à adesão à aliança militar ocidental NATO, e tem um histórico de guerras com a Rússia, quer gastar 139 milhões de euros para construir cercas em alguns pontos dos limites com a Rússia. A fronteira coberta de floresta ainda é marcada apenas com sinais e linhas de plástico na maior parte dos seus 1300 km de extensão.

O país nórdico disse em junho que construiria barreiras ao longo de partes da fronteira russa, de forma a fortalecer a proteção contra ameaças híbridas, bem como o potencial fluxo em massa de requerentes de asilo.

O projeto de lei foi aprovado em julho por uma maioria absoluta que permite que o Parlamento acelere as leis.

Enquanto isso, o Parlamento ucraniano prolonga lei marcial por mais três meses: lei marcial impede que todos os homens ucranianos entre os 18 e os 60 anos saiam do país.

10 – O QUE SAI DO G20?

EUA e UE tentaram usar cimeira para convencer países não-alinhados a encostarem a Rússia à parede. A China resistiu a incluir palavra “guerra” no comunicado final — e Índia resolveu situação. A crise do míssil que caiu na Polónia afetou a agenda e minimizou impacto da ausência de Putin e do discurso de Zelensky. Mas o G20 está alinhado na ideia de que para a estabilização da economia global é fundamental que a Rússia pare com a guerra.

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