Opinião

Os Beatles (também) estão nos cinemas

Opinião de João Lopes.

Peter Jackson criou um filme de 60 minutos a partir da sua série sobre os Beatles — nas salas dos EUA é um pequeno grande sucesso.

Com frequência, a vida económica do cinema é reduzida aos números “grandes” — sobretudo no mercado dos EUA. E se é verdade que há um jornalismo que se preocupa em compreender a complexidade dessa vida, não é menos verdade que, por vezes, as simplificações proliferam. Exemplo? Não faz sentido fazer manchetes sobre um qualquer filme de super-heróis (“bom” ou “mau”, não é essa a questão) que arrecadou 100 ou 200 milhões de dólares nas bilheteiras sem acrescentar que o respectivo orçamento (incluindo a promoção) foi de 300 ou 400 milhões…

Sublinhemos, por isso, a discreta, mas muito interessante, performance de um filme que, para já, tem cerca de meio milhão de dólares de receitas (num só dia de exibição: 30 de janeiro). Falo de “The Beatles: Get Back”, de Peter Jackson. A mini-série televisiva (Disney+) sobre as sessões de gravação do álbum “Let it Be”?… Não exactamente. Acontece que Jackson organizou uma montagem de 60 minutos, extraídos do material da série, para ser exibida em salas IMAX.

“The Beatles: Get Back”

Assim, em 68 cidades americanas (Nova Iorque, Boston, São Francisco, Los Angeles, Denver, etc.), os espectadores esgotaram aquelas salas para verem ou reverem o quarteto de Liverpool, numa montagem centrada num dos segmentos marcantes de “The Beatles: Get Back”: o lendário concerto no telhado da editora Apple — realizado há precisamente 53 anos, a 30 de janeiro de 1969 —, emblema de “Let it Be” e, mais do que isso, registo que ficou como despedida simbólica da banda.

Face a este pequeno, mas muito curioso, fenómeno, importa relativizar as circunstâncias: aquilo que é possível num mercado com perto de 45 mil ecrãs não pode ser automaticamente replicado noutros contextos de diferente dimensão (segundo dados da Pordata, em 2020 havia 565 ecrãs em Portugal).

O que não nos impede de reconhecer e, sobretudo, enaltecer outra dimensão do fenómeno. A saber: a aposta na diversificação da oferta do mercado e, em particular, a criação de eventos que, de facto, não encontram qualquer equivalente nos nossos ecrãs caseiros. Nessa dinâmica está, por certo, uma via importante para um contexto (realmente global) em que, como bem sabemos, para o melhor e para o pior, o “streaming” passou a ser o poder dominante.

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