Os agricultores do centro da Grécia estão há meses sem poderem trabalhar. As chuvas torrenciais do ano passado transformaram os campos em lagos. A situação desencadeou a revolta dos agricultores que, como muitos em toda a Europa, viram os seus meios de subsistência ameaçados pelo aumento dos custos e pelas alterações climáticas.
Num pequeno barco a motor, o agricultor Babis Evangelinos desliza sobre as terras que outrora cultivou na planície da Tessália, no centro da Grécia, passando pelos troncos das suas amendoeiras sem fruto submersas pelas águas das cheias.
A sua pequena parcela, perto do Lago Karla, está entre dezenas de milhares de hectares de campos de algodão, amendoeiras e pastagens que foram devastados por inundações sem precedentes em setembro do ano passado, numa região considerada um dos principais celeiros da Grécia.
Cinco meses depois, grande parte da área – e muitos equipamentos caros – permanecem submersos. Uma estação de bombagem destinada a impedir inundações está abandonada no meio de um lago. Pelicanos e garças, antes desinteressados pela planície outrora seca, sobrevoam agora a região.
A revolta dos agricultores europeus
A situação desencadeou a revolta dos agricultores que, como muitos em toda a Europa, viram os seus meios de subsistência ameaçados pelo aumento dos custos e pelas alterações climáticas.
Agricultores de França a Portugal, de Espanha à Polónia têm saído às ruas nas últimas semanas, criticando a concorrência desleal, a falta de apoio governamental e os preços baixos.
Em Atenas, milhares de agricultores foram com os seus tratores até ao centro da capital e passaram a noite frente ao Parlamento a 20 de fevereiro a exigir mais ajuda.
Em resposta aos protestos dos agricultores sobre o aumento dos custos, o governo da Grécia ofereceu descontos nas contas de energia e estendeu uma redução fiscal para o gasóleo.
Em Tessália, os agricultores receberam até agora 150 milhões de euros como compensação pelas inundações. O governo disse que outros 110 milhões de euros virão em julho, mas muitos dizem que ainda é pouco para fazer face aos prejuízos.
Incêndios, tempestades, calor extremo
A Grécia tem sido atingida por condições meteorológicas extremas: incêndios florestais devastaram o norte no ano passado e depois a tempestade Daniel descarregou o equivalente a 18 meses de chuva em quatro dias em setembro, levantando questões sobre a capacidade do país mediterrânico para lidar com um clima cada vez mais errático.
É também um alerta para o que outros países mais a norte poderão enfrentar no futuro.
As tempestades Daniel e Elias, inundaram mais 14 mil hectares perto do Lago Karla, na planície da Tessália, que representa 25% da produção agrícola da Grécia e 5% do PIB. Cerca de 30.000 agricultores foram afetados em toda a província.
O Lago Karla foi drenado na década de 1960 para aumentar as terras agrícolas e uma parte foi recuperada nos últimos anos, mas durante as cheias de setembro voltaram a entrar 450 a 500 milhões de metros cúbicos de água. A área perto do lago tem uma pequena saída artificial e a HVA, uma empresa agrícola holandesa contratada pelo governo para avaliar os danos, disse que pode levar até dois anos para a água baixar.
Evangelinos tinha acabado de colher uma tonelada de amêndoas quando a chuva chegou e levou o restante. Normalmente, recolheria 10 toneladas durante a temporada, no valor de cerca de 20 mil euros, mas conseguiu apenas 40%. Agora ele não tem certeza de como pagará as despesas universitárias das suas duas filhas.
As autoridades locais propuseram acelerar a recuperação através da utilização de máquinas flutuantes para bombear a água já em abril numa área, disse o governador da Tessália, Dimitris Kouretas.
“Há alguns milhares de famílias a morar aqui. Queremos que eles se vão embora?”.
Alguns já o fizeram. Evangelinos vai ficar por enquanto. Diz que, quando o solo secar, espera poder arrancar árvores danificadas e plantar novas.