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O "sósia" e a intuição de um pai: tudo o que se sabe sobre o suspeito de matar Charlie Kirk

Tyler Robinson, de 22 anos, foi detido 33 horas depois do homicídio de Charlie Kirk. O suspeito não está a colaborar com as autoridades e não confessou o crime.

Marta Ferreira

Charlie Kirk, de 31 anos, foi morto a tiro na quarta-feira, perante centenas de pessoas, quando participava num debate na Universidade Utah Valley, em Orem, cidade do estado do Utah (oeste). Tyler Robinson, um jovem de 22 anos, foi detido e é suspeito de ter disparado uma espingarda a partir do telhado de um edifício perto do local onde acontecia o debate. Mas o que já se sabe sobre o caso que chocou os EUA?

O suspeito está detido, mas ainda há muito por perceber. O governador do Utah, Spencer Cox, republicano e uma das principais vozes a tornar públicos mais detalhes da investigação, indicou ao Wall Street Journal que o jovem estava "profundamente doutrinado com a ideologia de esquerda".

Deixa ainda no ar, no sábado, a hipótese de um relacionamento amoroso com o colega de quarto, que estaria a fazer transição de género masculino para feminino, poder ser a motivação do crime. Os investigadores - também segundo o republicano em declarações à CNN - verificam se esse terá ou não sido um fator determinante, mas, para já, nada é certo.

O crime, o "bella ciao" e as mensagens no Discord

O suspeito chama-se Tyler Robinson, tem 22 anos, é estudante do terceiro ano de um curso na área da eletricidade e é natural do Utah. Na base da investigação que levou à detenção de Robinson estão mensagens trocadas na plataforma Discord.

Jud Hoffman, vice-presidente da plataforma, indicou esta sexta-feira que houve "comunicações entre o colega de quarto do suspeito e um amigo após o tiroteio, nas quais o colega de quarto relatava o conteúdo de uma nota que o suspeito havia deixado".

As mensagens no Discord, partilhadas pelo colega de quarto com os investigadores, abordavam a necessidade de recuperar uma espingarda de um ponto de recolha, que seria deixada num arbusto, e que a área onde a espingarda seria deixada deveria ser vigiada. A recolha da arma deveria ser feita com recurso a uma toalha. Os investigadores revelaram ter encontrado a espingarda envolvida numa toalha perto do local do tiroteio.

De acordo com o New York Times, no dia do homicídio e depois de reveladas as imagens do suspeito pelo FBI, Robinson foi questionado num grupo no Discord: "Onde estás?". Em menos de um minuto, Robinson respondeu indicando que o seu "sósia" estava a tentar colocá-lo "em problemas". Um outro utilizador da plataforma atirou, aparentemente em tom de brincadeira: "O Tyler matou o Charlie!". A troca de mensagens aconteceu cerca da 13h00 local, horas antes do suspeito ter sido detido.

Nos invólucros das balas que estavam dentro da arma do crime, apreendida pela polícia na passada quinta-feira, estavam mensagens gravadas que incluíam memes com referências a videojogos (também elas mencionadas nas mensagens no Discord). Spencer Cox revelou que estavam escritas coisas como “Olá, fascistas, apanhem esta” e “Oh bella ciao, bella ciao, bella ciao ciao ciao”.

As autoridades investigam aquilo que descrevem como mensagens antifascistas como uma possível evidência de motivação política.

A intuição de um pai

O homicídio aconteceu na quarta-feira e poucas horas depois foi lançada uma caça ao homem em grande escala nos EUA para identificar o suspeito. Não demorou muito até que começassem a surgir imagens de videovigilância de um atirador no telhado de um centro de idosos a cerca de 130 metros (distância estimada pela BBC).

Mais tarde, o FBI divulgou imagens de uma “pessoa de interesse” para a investigação do assassinato. O homem nas imagens, vestido com uma t-shirt preta com uma águia e a bandeira americana estampadas, tinha o rosto parcialmente oculto por óculos escuros e um boné de beisebol, mas essas imagens fizeram 'soar as campainhas' na intuição de um pai no estado do Utah.

O pai de Robinson reconheceu-o e imediatamente questionou o filho, segundo as autoridades. Foi ao pai que Tyler terá confessado o crime (recuando depois perante as autoridades e remetendo-se ao silêncio), sendo persuadido a entregar-se às autoridades pelo progenitor.

Um amigo da família acabou por contactar o gabinete do xerife do Condado de Washington que transmitiu a informação ao FBI e autoridades competentes. Nessa noite, Tyler foi detido, cerca das 22h00 locais.

Autoridades determinaram o motivo?

Ainda não foi determinada a motivação do crime. Estão a ser consideradas como hipóteses o relacionamento amoroso de Robinson com o seu colega de quarto, que é transgénero, mas também motivações políticas.

As autoridades estão também a analisar o conteúdo de uma nota alegadamente deixada por Robinson e entregue pelo colega de quarto, mas, para já, os detalhes ainda são muito poucos.

Depois da detenção, Robinson começou por falar com as autoridades policiais, mas rapidamente se remeteu ao silêncio na manhã de sexta-feira, após contratar um advogado.

O governador do Utah afirma que Robinson "não está a cooperar" com as autoridades e não confessou ter cometido o homicídio. Já as pessoas próximas a Robinson têm cooperado com a investigação, indica o republicano em declarações à ABC News.

Que acusações enfrenta o suspeito?

Robinson deverá ser ouvido em tribunal na terça-feira. Mantém-se detido, sem possibilidade de liberdade condicional, numa unidade especial da prisão do condado de Utah, acusado de homicídio qualificado, disparo ilegal de arma de fogo e obstrução da justiça, segundo autoridades.

O procurador-geral de Utah, Derek Brown, não quis revelar na sexta-feira se as autoridades vão pedir medida mais gravosa, a pena de morte, mas admitiu que "tudo está em aberto".

Debaixo de vigilância apertada, Robinson aguarda por avaliação do seu estado de saúde mental sendo depois determinado qual o melhor local para ficar detido. Não houve, até ao momento, comentários que refletissem intenção suicida, mas o suspeito "continua a ser monitorizado" por uma equipa médica, indicou o sargento Ray Ormond do gabinete do xerife do Condado de Washington.

O que vai acontecer com o podcast de Kirk?

No primeiro discurso público após a morte do marido, Erika Kirk garantiu que a missão do ativista não termina com a sua morte. Numa homenagem ao marido, Erika Kirk partilhou uma série de fotos e vídeos nas redes sociais em que segura e beija as mãos do corpo do marido.

A mulher garantiu que "os gritos desta viúva ecoarão pelo mundo como um grito de guerra" com a digressão de Charlie Kirk pelos campus universitários, “The American Comeback Tour”, a continuar como planeado.

Haverá ainda mais digressões nos próximos anos”, sublinhou, prometendo manter o legado de Kirk e torná-lo "maior do que nunca".

Quanto ao programa de rádio e podcast "do qual tanto se orgulhava", continuará apesar da morte do ativista conservador.

Nos dias que se seguiram à sua morte, as contas de Kirk na internet conquistaram milhões de seguidores. Vídeos com argumentos políticos de Kirk a promover Trump e as prioridades conservadoras também ganharam tração, refletindo um aumento na audiência.

Funeral de Kirk marcado para 21 de setembro com presença de Trump

O funeral do ativista conservador norte-americano Charlie Kirk, assassinado na quarta-feira, vai realizar-se a 21 de setembro no estádio State Farm, sede da equipa de futebol americano Arizona Cardinals, em Glendale, cidade a cerca de 25 quilómetros de Phoenix.

"Junte-se a nós para celebrar a vida extraordinária e o legado duradouro de Charlie Kirk, uma lenda americana", lê-se numa publicação da organização Turning Point partilhada nas redes sociais.

Quem era Charlie Kirk?

Amplamente conhecido por ter fundado a organização conservadora Turning Point USA, Charlie Kirk era um aliado próximo de Trump, que anunciou a atribuição, a título póstumo, a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta condecoração civil do país.

Charlie Kirk era considerado uma das figuras chave da vitória de Trump nas eleições presidenciais de 2024. Para muitos jovens conservadores nos Estados Unidos, Kirk era um verdadeiro ícone político, tinha apenas 31 anos.

O ativista conservador defendia a ideia de que valia a pena sacrificar a vida de algumas pessoas para que os norte-americanos pudessem manter o direito de possuir armas de fogo.

A Turning Point USA é atualmente uma das organizações daquele tipo que mais cresce nos Estados Unidos.

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