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"Problema político em França é só a ponta do iceberg"

José Gomes Ferreira considera que a queda do Governo francês é a ponta do iceberg, acrescentando que a crise vivida em França vai muito além da instabilidade política.

José Gomes Ferreira

O Governo francês caiu esta quarta-feira na sequência da aprovação de uma moção de censura na Assembleia Nacional, em França. José Gomes Ferreira diz que o problema vai para além da crise política, lembrando que o país vive um momento financeiro sensível.

Numa análise na SIC Notícias, José Gomes Ferreira fez uma comparação entre Portugal e França. O PIB francês ronda, de grosso modo, os 2,8 milhões de milhões de euros, dez vezes superior ao português, que ronda os 280 mil milhões. No entanto, a dívida pública per capita em França ultrapassa os 42 mil euros por habitante – mais do dobro dos 18 mil euros por português, explica. Apesar disso, a dívida pública de Portugal equivale a menos de 100% do PIB, enquanto França apresenta um rácio superior, de 112%.

Mais preocupante que a dívida pública é a dívida externa, assinala José Gomes Ferreira. No caso de Portugal, a dívida externa corresponde a cerca de 50% do PIB, mas em França ultrapassa o dobro da riqueza nacional produzida, um indicador que, segundo José Gomes, pesa significativamente para os investidores.

Outro ponto crítico é o défice. França apresenta um défice de 6,1% e tem enfrentado dificuldades a controlá-lo. Para reduzi-lo a 5%, foi necessário "lançar um grande pacote de austeridade". Em contraste, Portugal já alcançou superávites orçamentais e discute objetivos de défice estrutural mínimos, como os 0,5% exigidos pela União Europeia.

Além dos números, José Gomes Ferreira sublinha que França enfrenta um declínio de competitividade.

"O país envelheceu, não realizou reformas estruturais, não acompanhou a inovação e não resolveu os problemas das contas públicas em tempo útil."

O Governo francês, liderado por Michel Barnier, foi destituído por uma moção de censura com 331 votos favoráveis da coligação de esquerda Nova Frente Popular e da extrema-direita, União Nacional.

Michel Barnier (centro-direita) terá agora que apresentar a sua resignação ao Presidente francês, Emmanuel Macron, que terá que nomear um novo chefe de Governo, já que está impossibilitado de convocar novas eleições legislativas.

Barnier estava a governar em minoria até agora e, perante a dificuldade de aprovar o orçamento, recorreu na segunda-feira ao artigo 49.3 da Constituição francesa, que prevê a possibilidade de aprovar leis, evitando uma votação parlamentar em troca de ter de se submeter a uma moção de censura.

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