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Julian Assange sai em liberdade após declarar-se culpado de conspiração

Após declarar-se culpado de um crime de conspiração para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais, o fundador do WikiLeaks partiu, como "um homem livre", do território norte-americano das Ilhas Marianas num avião rumo à Austrália.

O fundador do WikiLeaks à saída do tribunal em Saipan, nas Ilhas Marianas, onde se declarou culpado de conspiração e saiu em liberdade, ao fim de 12 anos
Chung Sung-Jun

SIC Notícias

O fundador do portal WikiLeaks, Julian Assange, declarou-se esta quarta-feira culpado de violar a lei de espionagem dos Estados Unidos por divulgar documentos confidenciais, no âmbito de um acordo com a justiça norte-americana. Ao fim de 12 anos, sete dois quais na embaixada do Equador e mais cinco numa prisão britânica, é um homem livre.

Perante um tribunal federal das Ilhas Marianas, um território norte-americano no Oceano Pacífico, Assange aceitou uma acusação criminal de conspiração para obter e divulgar ilegalmente informações confidenciais.

Ainda assim, de acordo com o jornal The Washington Post, o australiano defendeu as suas ações.

"Quando trabalhei como jornalista, incentivei a minha fonte a fornecer informações consideradas confidenciais para que eu pudesse publicá-las", disse Assange.

A juíza Ramona Villagomez Manglona aceitou a confissão de Assange, de 52 anos, numa audiência que decorreu num tribunal localizado na ilha de Saipan, capital das Ilhas Marianas.

"Com esta decisão, parece que poderá sair deste tribunal como um homem livre. Espero que isto ajude a restaurar alguma paz", disse a juíza ao proferir a sentença.

Após a confissão de culpa, os procuradores norte-americanos procederam à leitura do acordo com a defesa de Assange.

O acordo implica uma pena de 62 meses de prisão, o período que o australiano já cumpriu na prisão de segurança máxima de Belmarsh, no Reino Unido.

Assange aceitou ainda renunciar ao direito de apresentar recurso e comprometeu-se a destruir qualquer informação confidencial obtida pelo WikiLeaks.

"Um precedente assustador"

O advogado de Julian Assange espera que os Estados Unidos da América não voltem a acusar jornalistas de espionagem. À saída do tribunal, em Saipan, Barry Pollack disse que a justiça norte-americana criou um precedente assustador.

A defesa do australiano solicitou que a audiência fosse realizada no arquipélago devido à sua proximidade com a Austrália e porque Assange não queria viajar para o território continental dos Estados Unidos.

O fundador do portal apareceu em tribunal acompanhado por Kevin Rudd, antigo primeiro-ministro da Austrália e atual embaixador australiano nos Estados Unidos.

O atual primeiro-ministro da Austrália já reagiu à notícia, saudando o regresso de Julian Assange ao país. Aos deputados australianos, na Câmara dos Representantes, Anthony Albanese afirmou que o caso já se arrastava há demasiado tempo e que ninguém ia ganhar com isso. 

Na rede social X, a mulher de Assange, Stella, reagiu à notícia: "Julian sai do tribunal federal de Saipan como um homem livre. Não consigo parar de chorar".

Também o WikiLeaks reagiu na mesma rede social, com uma fotografia:

Avião de Julian Assange partiu das Ilhas Marianas rumo à Austrália

Julian Assange partiu, como "um homem livre", do território norte-americano das Ilhas Marianas num avião rumo à Austrália.

O voo fretado VJT199 partiu da ilha de Saipan, capital das Ilhas Marianas, por volta das 12:10 (03:10 em Lisboa), avançaram jornalistas da agência de notícias France-Presse.

O avião aterrou na capital australiana, Camberra, por volta das 19:30 (10:30 em Lisboa).

Uma odisseia que começou há 14 anos

Assange estava detido em Belmarsh, no leste da capital britânica desde 2019, altura em que foi detido, após sete anos de reclusão na embaixada do Equador em Londres, onde se refugiou para evitar ser extraditado para a Suécia, onde era acusado de violação.

Desde então que os EUA tentavam a extradição de Assange, acusado de 18 crimes de espionagem e de intrusão informática pela divulgação no portal WikiLeaks de documentos confidenciais, que em 2010 e 2011 expuseram violações de direitos humanos cometidas pelo exército norte-americano no Iraque e no Afeganistão.

Washington queria julgar Assange pela divulgação de mais de 700 mil documentos secretos. O australiano estava acusado ao abrigo da Lei de Espionagem de 1917, enfrentando uma possível pena de até 175 anos de prisão.


Com Lusa

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