Israel invadiu o Hospital Al-Shifa na semana passada, garantindo que o Hamas usava o espaço como centro de comando. A invasão do hospital foi contestada pela comunidade internacional, já que o local tinha centenas de doentes e servia de abrigo para palestinianos. Outros hospitais na Faixa de Gaza foram alvo de ataques. Em entrevista na SIC Notícias, João Antunes, diretor-geral da Médicos Sem Fronteiras Portugal, dá conta da morte de três médicos, dois da organização, num ataque na segunda-feira ao Hospital Al-Awda, um dos últimos a funcionar no Norte de Gaza.
"Temos a lamentar a perda de vida de três médicos que estavam a prestar cuidados de saúde, dois deles trabalhavam com a Médicos Sem Fronteiras (MSF), jovens médicos que já não viam a família há algum tempo, que estavam a trabalhar incessantemente na prestação de cuidados de saúde a esta população que tanto tem sofrido e que faleceram mesmo ao lado das camas dos pacientes".
“Estamos com um enorme pesar, uma enorme dor, também de sentir que tem sido um conflito que tem levado a um constante desrespeitar daquilo que é o espaço humanitário dos hospitais, não só dentro dos hospitais, mas também as pessoas têm que perceber o que é o caminho, a deslocação que faz uma pessoa entre chegar ao hospital ou então fazer a própria evacuação médica”, sublinha João Antunes.
O diretor-geral da Médicos Sem Fronteiras Portugal fala da extrema dificuldade em aceitar que se ultrapasse determinadas regras e mecanismos que serviam para proteger as populações civis e os feridos.
“Temos que pensar que qualquer pessoa que não esteja capaz de ter um papel ativo no conflito tem o dever ou tem o direito de receber cuidados de saúde. Tem sido uma semana muito complicada para nós, como também para a população da Faixa de Gaza”, realça.
Em entrevista na SIC Notícias, o responsável da organização médico-humanitária explica o trabalho da MSF em cenários de guerra, em situações de retirada das própria equipas, onde tem de existir sempre um protocolo muito rigoroso.
“Não podemos obrigar brincar com a vida das pessoas que trabalham connosco. Estamos sempre em permanente contato com ambas as partes beligerantes, damos sempre contactos informações específicas e contínuas de onde estamos, coordenadas de GPS, onde estamos, para onde estamos a ir e mesmo assim sentimos que, apesar do hospital num dia anterior se a base dos Médicos Sem Fronteiras, foi bombardeada”.
João Antunes explica que as partes beligerantes têm desrespeitado o protocolo e que nesta guerra as regras foram rapidamente desrespeitadas, como tem reportado a MSF e também outras organizações como a OMS e as Nações Unidas. Situações que geralmente não acontecem noutros cenários de conflito em que o trabalho humanitário aceite pelas regras.