As eleições regionais deste domingo na Alemanha confirmaram as vitórias esperadas dos conservadores da CDU e CSU, uma forte subida da extrema-direita e um “desastre” para os partidos do Governo, com os socialistas do chanceler Olaf Scholz à cabeça.
Os resultados das eleições eram aguardados com particular expectativa em Berlim, já que, embora os alemães só tenham sido chamados às urnas em dois dos 16 estados que formam a Alemanha, Baviera e Hesse representam mais de um quarto da produção económica alemã e praticamente um quarto da população.
Alguns dos pontos essenciais dos resultados, ainda provisórios mas quase finais, das eleições regionais deste domingo celebradas nos estados federados da Baviera e do Hesse:
Conservadores da CSU e CDU mantêm hegemonia, mas sem maioria absoluta
Sem qualquer surpresa, a União Democrata-Cristã (CDU) e a União Social-Cristã (CSU), partidos-gémeos conservadores de centro-direita - a CSU existe somente na Baviera, enquanto a CDU está presente nos restantes 15 estados -, mantiveram a sua hegemonia nestes dois estados, que são autênticos bastiões de direita, mas longe do fulgor de outros tempos.
À semelhança do sucedido nas últimas eleições, os conservadores obtiveram vitórias claras, deixando os restantes partidos concorrentes a “léguas” de distância, mas voltarão a precisar de um parceiro de coligação, devendo a escolha recair naqueles que já foram os seus parceiros de governação nos últimos cinco anos.
Na Baviera, cuja capital é Munique, a CSU voltou a ganhar, algo que sucede desde a década de 1950, mas com o pior resultado em mais de 70 anos, 36,6% (-0,6 pontos percentuais do que nas anteriores eleições de 2018), o que poderá representar o fim das ambições do seu líder e ministro-presidente da Baviera, Markus Söder, a ser o candidato dos conservadores à chancelaria nas próximas eleições gerais de 2025.
A CSU, que em 2018 optou por se coligar com o partido populista Eleitores Livres (FW, na sigla em alemão, para “Freie Wähler”), já indicou que pretende voltar a escolher esta força como seu parceiro de governação, pois já afastara qualquer possível aliança com o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
O FW até subiu, para os 15,1% (+3,5%), apesar da polémica durante a campanha em torno do seu líder, Hubert Aiwanger, suspeito de ser simpatizante nazi na sua juventude.
Já no Hesse, que alberga o centro financeiro da Alemanha, Frankfurt, a CDU, liderada pelo ministro-presidente Boris Rhein, alcançou uma vitória bem mais convincente do que há cinco anos, ao atingir os 34,5% (ficara pelos 27% em 2018), e deverá manter a coligação que tem desde 2013 com o partido dos Verdes, cujo resultado ficou, todavia, aquém das expectativas, pois obtém 14,8%, contra 19,7% nas anteriores eleições.
Partido de extrema-direita AfD confirma ascensão
Apesar de estar afastado de posições nos governos dos dois estados em virtude de os conservadores rejeitarem coligar-se consigo quer na Baviera, quer no Hesse, o partido Alternativa para a Alemanha pode ser considerado um dos grandes vencedores das eleições, ao subir mais de 5 pontos em ambos os estados, depois de ter entrado pela primeira vez para os respetivos parlamentos regionais nas anteriores eleições de 2018.
O AfD deve atingir os 18,4% no Hesse, mais 5,3 pontos do que há cinco anos, e na Baviera alcança, de acordo com os resultados ainda provisórios, 15,9%, o que lhe dará o segundo lugar, à frente do FW e dos Verdes.
Os resultados de domingo nestes dois importantes e ricos estados no centro e sul do país confirmam a crescente popularidade a nível nacional do AfD, até porque o partido goza de particular popularidade é no leste da Alemanha, e conta com forte concorrência da direita nos dois estados que foram a votos, “bastiões” de longa data dos conservadores, sendo que na Baviera tem ainda a “concorrência” do partido populista FW.
"Cada vez mais eleitores estão a dar-nos a sua confiança. Estamos no bom caminho", regozijou-se Alice Weidel, co-líder do AfD, que, de acordo com todas as sondagens, é hoje em dia a segunda força política nas intenções de voto a nível nacional, com resultados entre os 20 e 22%, e é já considerado o partido de extrema-direita de maior sucesso desde o partido nazi.
"Já não se pode dizer que o AfD é um partido exclusivamente forte no leste" do país, onde se situam as regiões economicamente desfavorecidas da antiga República Democrática Alemã, salienta na sua edição online o jornal Süddeutsche Zeitung.
Derrota em toda a linha para os partidos do governo, com SPD à cabeça
Os três partidos que formam o Governo de coligação sofreram uma derrota em toda a linha nas eleições deste domingo, com destaque para os socialistas do SPD, do chanceler Olaf Scholz, com a Baviera e o Hesse a espelharem o forte descontentamento que se regista a nível nacional.
Embora os dois estados sejam praticamente desde o pós-II Guerra Mundial “bastiões” da direita, os resultados registados pelo SPD, Verdes e Partido Democrático Liberal (FDP) são particularmente maus, com os socialistas a terem o que a publicação Der Spiegel classifica de desempenho "desastroso".
O FDP confronta-se com a perda de representação no parlamento da Baviera, ainda sem saber se manterá assentos no Hesse.
Na Baviera, o SPD fica-se pelos 7,9%, abaixo dos 9,7% de há cinco anos, os Verdes recuam para os 14,9% (face aos 17,6% das anteriores eleições), enquanto o FDP, o parceiro mais frágil do governo federal, fica fora do parlamento regional, ao não atingir o limiar de 5% para eleger deputados, ficando-se pelos 2,9%.
No Hesse, o SPD apostara forte, ao apresentar como candidata à chefia do governo a atual ministra do Interior, Nancy Faeser, principal alvo das críticas da direita e extrema-direita devido ao forte aumento do número de requerentes de asilo na Alemanha, e a aposta revelou-se errada: os socialistas obtêm apenas 15,1% (contra 19,8% em 2018), a quase 20 pontos da CDU, e apenas ligeiramente à frente dos Verdes (14,8%).
O FDP só durante a madrugada deverá saber se consegue ter representação parlamentar, pois os resultados provisórios atribuem-lhe precisamente 5% (tinha obtido 7,5% em 2018).
"É um resultado muito dececionante", assumiu no domingo à noite Faeser, que já dera conta da sua intenção de manter as funções ministeriais no governo federal em caso de derrota nas eleições regionais.
A meio do mandato de quatro anos, os resultados constituem mais um duro revés para a chamada "coligação semáforo", que já vivia em óbvia desarmonia e com mínimos históricos de popularidade - cerca de 80% dos alemães manifestam-se descontentes com o desempenho do Governo -, antecipando-se um agudizar dos conflitos entre os parceiros de coligação, também à luz do desastre eleitoral do FDP, que deverá endurecer as suas posições.
A gestão da crise migratória, num ano em que se regista um forte fluxo de refugiados a chegarem à Alemanha, a estagnação da economia alemã, a guerra na Ucrânia e a política ambiental e climática, designadamente os custos da transição verde, são os grandes temas a nível nacional que penalizam o Governo e que marcaram, de resto, a campanha eleitoral na Baviera e no Hesse.
Com LUSA