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G6, G7, G8 e de novo G7. Este grupo ainda manda mesmo? 

Basta ver a sucessão de ataques militares da Rússia nos últimos dois dias para se perceber que Moscovo quer mostrar que não se sente intimidada pelas decisões do G7.

Ricardo Costa

O G6 começou em 1975, por iniciativa conjunta de França e Alemanha. Na altura, estes dois países, agregaram os EUA, a Itália e o Japão, sendo, sem qualquer dúvida, as maiores economias do mundo e, claro, as mais industrializadas. O Canadá juntou-se pouco depois ao grupo – agora, sim, o tal G7 – que, representando, uma enorme maioria da riqueza mundial, já estava dependente de matérias primas e de mercados existentes noutras geografias e que tentava, informalmente, marcar o ritmo do mundo que não estava sob influência de Moscovo.

Depois da queda do Muro de Berlim, a ordem mundial alterou-se radicalmente e a Rússia passou a integrar o grupo, no final dos anos 90, que se passou a chamar G8. Hoje parece estranho, mas Putin veio várias vezes a estas cimeiras. Em 2014, a Rússia foi expulsa, depois da anexação da Crimeia. E foi assim que o G7 voltou a ser… G7.

A composição nunca mais mudou, mas os convites para outros países participarem como convidados são cada vez mais habituais. Desta vez estão cá Argentina, África do Sul, Senegal, Índia e Indonésia. Apesar de o G7 ainda valer 45% do PIB mundial, representa menos de 15 por cento da população do planeta. Índia e Indonésia, dois dos países convidados, ocupam o segundo e o quarto lugar dos países mais populosos do mundo…

Os convites não são, assim, apenas retóricos ou de simpatia. São uma necessidade para um grupo que, tendo uma inegável capacidade económica, financeira, tecnológica e militar, já não consegue aplicar todas as medidas que deseja sem que outros alinhem. É evidente, como se está a ver no caso das sanções financeiras, que o G7 dispõe de instrumentos muito poderosos em tudo o que são circuitos de pagamentos, de seguros ou de tecnologia. Mas basta ver que a Índia duplicou a compra de crude russo desde o início da guerra na Ucrânia, para se confirmar que o G7 não manda em muitos países, que têm uma autonomia cada vez maior e que consideram que os seus interesses não coincidem com os do ocidente.

Há anos e anos que se decreta o fim do G7. Aliás, o G20, este ano presidido pela Indonésia (também convidada do G7), tem ganho muito peso porque representa mais interesses, mais economias, outras geografias e, claro, muito mais população mundial. Mas a morte do G7 parece um tema claramente prematuro. A guerra da Ucrânia contribuiu para isso, sem qualquer margem de dúvida. Tal como a NATO ou a UE, também o G7 ganhou nova força. Pode ser episódica ou um estertor, mas é inegável a atual força diplomática de um grupo que nasceu em 1976.

Basta, aliás, ver a sucessão de ataques militares da Rússia nos últimos dois dias para se perceber que Moscovo quer mostrar que não se sente intimidada pelas decisões do G7. No domingo, a poucas horas do arranque da Cimeira, no sul da Alemanha, bombardeou edifícios civis em Kiev. Há mais de três semanas que a capital ucraniana não era atacada e os ataques a prédios de habitação estavam a tornar-se raros. Na tarde de segunda-feira, muito poucas horas depois dos EUA terem anunciado que iam fornecer à Ucrânia um sistema de defesa antiaéreo de última geração – um sistema norueguês que defende a Casa Branca e o Capitólio, por exemplo -, Moscovo lançou um ataque a um centro comercial numa cidade onde não havia bombardeamentos há algum tempo.

Em dois dias consecutivos, um por antecipação outro por reação, a guerra na Ucrânia fez eco do G7 e das medidas que a cimeira foi tomando ou anunciando. Em poucas linhas, e apesar das evidentes fissuras entre as lideranças do G7 (a inflação começa a corroer os equilíbrios políticos nalguns países), ficou claro que a Ucrânia vai dispor de apoio financeiro durante o conflito, que será apoiada na reconstrução do país, que o apoio militar será maior e que a tentativa de isolar economicamente a Rússia vai prosseguir.

O embargo ao ouro russo e a imposição de um teto no preço do petróleo que Moscovo colocam nos mercados internacionais são mais duas peças num cerco extremamente complexo, mas que vai fazendo o seu caminho, como se viu na incapacidade que Moscovo mostrou em pagar um contrato de dívida que venceu no domingo. Mais ano menos ano, o G7 deixará de ser o sítio onde estão os países mais poderosos do mundo democrático, mas ainda não é o caso.

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