Quando a Polónia foi ocupada pela Alemanha nazi, Witold Pilecki ofereceu-se como voluntário para ser preso no campo de concentração de Auschwitz.
O oficial do Exército polaco tinha como missão obter informações sobre o campo de concentração e criar uma rede de resistência interna.
Mal o militar sabia que aquele viria a tornar-se no num dos maiores símbolos do genocídio nazi, onde morreram mais de um milhão de pessoas, a maior parte judeus.
Quem era Witold Pilecki?
Witold Pilecki nasceu em 1908 em Olonets, no norte da Rússia, e foi um dos militares que ajudou a Polónia no combate à invasão comandada por Adolf Hitler, em 1939.
De acordo com o historiador Jaroslaw Wróblewski, citado pela BBC, “Pilecki tinha vontade de combater e, em setembro de 1939, pensava que a Polónia conseguiria derrotar os alemães em apenas algumas semanas”.
Após a anexação da Polónia pela Alemanha, os militares nazis começaram a fazer detenções em massa entre a população local. Os militares polacos estavam entre os alvos da força alemã.
Com o crescente número de detidos, foi criado o campo de concentração de Auschwitz. A Polónia decidiu então enviar militares infiltrados para conseguir perceber o propósito e funcionamento do espaço.
Pilecki foi um dos voluntários e a sua detenção foi pensada ao pormenor. A BBC relata as declarações do sobrinho, Andrzej Marek Ostrowski, que na altura não passava de uma criança, mas que se lembra do que aconteceu.
Revela que o tio usava o apartamento da mãe para conspirar contra os nazis e foi ali que surgiram os rumores de que um grande campo estava a ser construído perto Oświęcim, local que os nazis apelidaram de Auschwitz.
Foi no apartamento da irmã que Pilecki foi capturado. Segundo o sobrinho, ao início de uma manhã, o porteiro do prédio bateu à porta do apartamento e ofereceu o porão como esconderijo, mas o militar tinha outros planos e recusou.
Antes de ser detido, Pilecki disse à irmã: “Informa a pessoa apropriada que cumpri a ordem”. Foi naquela altura que a família percebeu que aquilo fazia parte de um plano.
Dois anos e meio em Auschwitz
O historiador Wróblewski conta que os nazis partiram dos dentes de Pilecki quando este se recusou a carregar na boca a placa com o seu número de detenção. “Eles espancaram-no com uma bengala e torturaram-no”.
O militar polaco conseguiu criar uma estrutura militar com cerca de 500 pessoas, adianta o historiador, que revela que a constante luta pela sobrevivência dos detidos esbarrava na solidariedade que pudessem sentir.
Espalhados por todo o campo de concentração, os membros da resistência partilhavam informações de diferentes departamentos. Depois, Pilecki passava a informação para fora do campo.
Durante dois anos e meio, foram enviados relatórios do que se passava em Auschwitz e de quando passou de campo de concentração para campo de extermínio.
“Ele descreve Auschwitz por dentro e envia essa informação para que o mundo reaja, mas o mundo fica em silêncio”.
Jaroslaw Wróblewski, historiador
E Pilecki decidiu então fugir, depois de perceber que os seus apelos por um ataque ao campo não iam ser ouvidos. Apesar de ser considerada uma missão impossível, o militar e dois companheiros conseguiram fugir.
De volta à guerra e o novo inimigo
Depois de sair de Auschwitz, Pilecki voltou à luta e participou na Revolta de Varsóvia, em 1944, que tinha como objetivo recuperar a capital polaca aos nazis. A vitória foi da Alemanha nazi.
Acabou por ser detido novamente pelos nazis, num campo de prisioneiros de guerra. Foi libertado no ano seguinte, pelas tropas norte-americanas, quando a derrota de Hitler já estava perto.
Mas a sua libertação e o fim do Terceiro Reich não significaram o fim da luta de Pilecki, que começou a combater o Governo comunista de Josef Stalin.
De acordo com a BBC, em 1947, foi detido pelas autoridades polacas. Após um julgamento, foi condenado à morte.
Durante 40 anos, a família não soube do paradeiro de Pilecki. O seu fim só foi conhecido em 1990, quando no final da Guerra Fria e o colapso do comunismo, um documento oficial confirmou que o militar tinha sido baleado sem que a família fosse informada.