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Cuba. Manifestações pacíficas intercetadas por forças policiais e apoiantes do Governo

Os protestos desta segunda-feira contaram com o apoio de exilados cubanos, que pediram ao Governo dos Estados Unidos que lidere uma intervenção internacional para evitar que os manifestantes sejam vítimas de "um banho de sangue".

Alexandre Meneghini

Lusa

O Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, exortou esta segunda-feira os seus apoiantes a saírem às ruas prontos para o "combate", em resposta às manifestações que aconteceram esta segunda-feira contra o Governo em vários pontos do país.

"A ordem de combate está dada, os revolucionários às ruas", afirmou o governante, citado pela agência EFE, numa aparição especial na televisão.

Milhares de cubanos manifestaram-se esta segunda-feira contra o Governo, algo inédito, nas ruas de pequenas cidades, como San Antonio de Los Baños, Güira de Melena e Alquízar, na província ocidental de Artemisa, Palma Soriano, em Santiago de Cuba, na ponta oposta da ilha, e em alguns bairros de Havana.

De acordo com a agência EFE, centenas de pessoas saíram à rua em Havana em manifestações pacíficas, que foram intercetadas pelas forças de segurança e brigadas de apoiantes do Governo, tendo-se registado violentos confrontos e detenções.

Os confrontos entre os manifestantes e os pró-Governo aconteceram no Parque da Fraternidade, em frente ao Capitólio, onde chegaram a juntar-se mais de mil pessoas, com uma forte presença das forças militares e policiais, que fizeram várias detenções.

No entanto, um grupo de várias centenas de manifestantes conseguiu romper o cordão policial, na direção do Malecón, com os braços no ar e a gritar palavras como "liberdade", "pátria e vida" e "ditadores", em referência aos dirigentes do país.

Grupos organizados de apoiantes do Governo também estiveram no local, entoando "Eu sou Fidel" ou "Canel, amigo, o povo está contigo".

Os protestos desta segunda-feira contaram com o apoio de exilados cubanos, que pediram ao Governo dos Estados Unidos que lidere uma intervenção internacional para evitar que os manifestantes sejam vítimas de "um banho de sangue".

"Chegou o dia em que o povo de Cuba se levantou", afirmou à EFE Orlando Gutíerrez, da Assembleia da Resistência Cubana, uma plataforma de organizações da oposição, de e fora da ilha.

O líder exilado em Miami, que preside ao Diretório Democrático Cubano, sublinhou que, de acordo com informações que recolheu, há protestos em mais de 15 cidades e vilas de Cuba.

"É muito claro o que quer o povo de Cuba, que este regime termine", afirmou em declarações à EFE.

A Assembleia da Resistência Cubana apelou à população a que se mantenha nas ruas e à polícia e às Forças Armadas para que se posicionem ao lado do povo.

Rosa María Paya, do movimento Cuba Decide, que divulgou online vários vídeos dos protestos desta segunda-feira, disse à EFE que a repressão já começou e que se fala em vítimas de disparos.

Segundo a EFE, que cita testemunhas no local, houve violência policial nas manifestações de San Antonio de Los Baños e Palma Soriano, que foram transmitidas em direto em várias contas na rede social Facebook.

Habitantes de San Antonio de los Baños contaram a repórteres da EFE que, durante o protesto, a polícia reprimiu violentamente e deteve alguns dos manifestantes.

Estes foram os maiores protestos anti-Governo de que há registo na ilha desde o chamado "maleconazo", quando em agosto de 1994, em pleno "período especial", centenas de pessoas saíram às ruas de Havana e não se retiraram até à chegada do então líder cubano Fidel Castro.

Desde o início da pandemia da covid-19, em março de 2020, os cubanos enfrentam maior escassez de alimentos, medicamentos e outros produtos básicos, o que gerou um forte mal-estar social.

Estas manifestações aconteceram no dia em que Cuba registou um novo recorde diário de contágios e mortos devido à covid-19, com 6.923 novos casos nas últimas 24 horas, num total de 238.491, e 47 mortos, subindo o total desde o início da pandemia para 1.537.

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