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António Vitorino, um dos mais influentes da política portuguesa agora à frente da OIM

O português António Vitorino, 61 anos, foi eleito hoje diretor-geral da Organização Internacional das Migrações (OIM), uma nova etapa de uma carreira política de grande relevo, com ligações ao atual secretário-geral da ONU, o também português António Guterres.

MARTIAL TREZZINI / EPA

O advogado, político, consultor empresarial, comentador, é hoje considerado uma das figuras mais influentes da elite política portuguesa. Diz de si próprio ser “aquilo que fiz”.

Natural de Lisboa, entrou na atividade política quando era estudante no liceu Camões, aderindo à Juventude Socialista (JS), mas os ventos do Processo Revolucionário em Curso (PREC) radicalizaram então as suas posições.

Aproximou-se da Frente Socialista Popular (FSP) de Manuel Serra, que tinha rompido com o Partido Socialista (PS) após o disputado congresso de finais de 1974. De seguida, integrou duas outras formações também dissidentes do PS: o Movimento Socialista Unificado (MSU) em 1976 e a União de Esquerda para a Democracia Socialista (UEDS), liderada pelo engenheiro Lopes Cardoso, em 1978.

Dois anos depois, foi eleito pela primeira vez deputado à Assembleia da República nas listas da UEDS integradas na Frente Republicana e Socialista (FRS), liderada pelo PS. Acabaria por reingressar no partido liderado por Mário Soares e garantiria o lugar de deputado nas cinco legislaturas seguintes.

Licenciado em Direito em 1981, e admitido na Ordem os Advogados em 1983, o seu currículo académico indica ter concluído o mestrado em Ciências político-jurídicas (1986), para além da função de professor assistente da Faculdade de Direito da Universidade Clássica de Lisboa (1982-2007), e dos departamentos de Direito da Universidade Autónoma de Lisboa (1985-1995) e da Universidade Internacional em Lisboa (1998-1999). Foi ainda professor convidado da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa e da Católica Global School of Law, da Universidade Católica Portuguesa.

A nível profissional, a sua teia de relações começa a ser reforçada quando integra a poderosa firma de advogados “Cuatrecasas, Gonçalves Pereira & Associados”, e passou a desempenhar cargos em importantes empresas, designadamente nos cargos de presidente de assembleias-gerais e de conselhos fiscais, ou de vogal em administrações, incluindo a Siemens Portugal, Brisa, Finipro, Novabase, Banco Caixa Geral Totta de Angola (BCGTA) ou da Fundação Res Publica, ligada ao Partido Socialista. Foi ainda presidente da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva entre 2007 e 2009.

Após ser eleito deputado, iniciou funções governativas em 1983 no cargo de secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares no IX Governo Constitucional (1983-1985). De seguida, e após aqueda do Bloco central e a subida ao poder de Cavaco Silva, seguiu para a região de Macau onde entre 1986 e 1987 seria o secretário-adjunto do governador Joaquim Pinto Machado, a quem sucedeu Carlos Melancia.

De regresso a Lisboa, António Vitorino, reconhecido membro da obediência maçónica Grande Oriente Lusitano, seria eleito juiz do Tribunal Constitucional pela Assembleia da República e sob indicação do Partido Socialista, cargo que exerceu desde 1989 a 1994.

Durante o XIII governo dirigido por António Guterres (1995-1999) foi designado ministro da presidência e de seguida ministra da Defesa nacional. No final deste mandato, passaria a ocupar o cargo de Comissário Europeu da Justiça e Assuntos Internos, um dos cargos de maior relevo da Comissão Europeia, tendo ajudado a elaborar a Carta dos Direitos Fundamentais da UE.

O Jornal de Negócios, numa abordagem aos “mais poderosos” e onde está incluído, destacou em particular a sua influência empresarial, política e mediática, e a perenidade.

Definido como um “mediador”, a sua presença na televisão como comentador manteve-o na esfera mediática e com influência na opinião pública. Uma “vasta teia de relações”, nacionais e internacionais, as amizades, os cargos que ocupou, na política e nos negócios, também lhe permitiram um assinalável poder económico.

A sugestão emitida em 2015 pelo então primeiro-ministro António Costa, atual secretário-geral da ONU, de que António Vitorino reunia “todas as qualidades para ser Presidente da República”, suscitou reações díspares, e particularmente críticas por parte Alfredo Barroso, o ex-chefe da Casa Civil na presidência de Mário Soares.

Num texto publicado no Facebook, relembrou os diversos cargos que ocupou – “Tudo isto é público e consta da Wikipédia”, disse –, para precisar: “Mas também se lê com vantagem o que sobre ele se diz – e diz-se muito! – no livro de Gustavo Sampaio “Os Facilitadores ou como a política e os negócios se entrecruzam nas Sociedades de Advogados”. Os socialistas neoliberais são mesmo assim…”.

Definindo-o como o “Proença de Carvalho do PS”, Alfredo Barroso contestava a sua eventual designação para candidato presidencial: “António Vitorino é politicamente muito competente, mas há muitos anos que está envolvido no mundo dos negócios, pertence a uma sociedade de advogados poderosa, participou em privatizações, ocupa vários lugares de administração em várias empresas”.

A corrida a Belém não ocorreu, e António Vitorino acabou agora por ser eleito para um cargo que sempre pretendeu, e para o qual será decerto muito útil a experiência que acumulou enquanto Comissário europeu.

Lusa

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