Mais de uma centena de pessoas continuavam detidas cerca de 12 horas depois de terem sido levados da "Chater Road", onde se concentraram e se recusaram abandonar o local, num protesto que se seguiu à mega manifestação pró-democracia de terça-feira.
Vinte e cinco pessoas foram colocadas em liberdade sob fiança, ficando sujeitas à apresentação periódica às autoridades, enquanto as restantes foram libertadas após advertências, especifica a RTHK (Rádio e Televisão Pública de Hong Kong).
Alguns detidos acusaram a polícia de lhes ter negado o direito de acesso a um advogado.
James To, do Partido Democrático, afirmou que nove advogados lhe contaram que a polícia não lhes deixou ver os seus clientes.
As autoridades foram chamadas a intervir em Central, distrito financeiro onde se concentram escritórios, bancos e centros comerciais, para dispersar os manifestantes da marcha de terça-feira que tinham decidido permanecer no local até à manhã seguinte.
O secretário para a Segurança, Lai Tung-kwok, saiu em defesa da atuação policial, afirmando que as detenções foram necessárias para repor a fluidez do tráfego e restaurar a lei e ordem.
Segundo a RTHK, o mesmo responsável indicou que os agentes das forças de segurança usaram o mínimo de força para dispersar os manifestantes.
Na passada terça-feira, centenas de milhares de pessoas participaram na marcha anual de 01 de julho -- data de transferência da soberania de Hong Kong para a China -- para exigir uma verdadeira democracia e menos interferência nos assuntos políticos por parte de Pequim.
De acordo com a Frente Civil para os Direitos Humanos, que organiza o protesto anual, saíram para a rua mais de meio milhão de pessoas, pelo que a manifestação é considerada a maior da década em Hong Kong, desde o protesto de 2003, ano em que 500 mil pessoas protestaram contra a proposta de lei relativa à defesa da segurança do Estado, a qual acabaria por cair.
Já segundo as estimativas oficiais, a adesão à marcha, que foi vigiada de perto por cerca de 4.000 polícias, um contingente raro para a antiga colónia britânica, não foi além de 98.600 pessoas.
E se, normalmente, entre os vários motes, o apelo à reforma democrática está sempre presente, na manifestação deste ano ganhou novo impulso.
É que a marcha teve lugar a seguir à publicação do "livro branco" de Hong Kong, em que Pequim reafirma o seu controlo e soberania sobre o território, e ao encerramento da votação para o referendo não oficial de dez dias sobre a reforma democrática, participado por mais de 780 mil residentes de Hong Kong, ou seja, quase um quarto dos 3.470.000 eleitores de 2012.
A imprensa oficial chinesa atacou, por várias vezes, o referendo informal, considerando-o ilegal, antipatriótico e motivado pela "paranoia política".
Um total de 88% dos que votaram exortou os deputados de Hong Kong a vetarem quaisquer planos políticos de reforma que não cumpram os "padrões internacionais".
O referendo, que pedia aos residentes da antiga colónia britânica para escolherem um de três métodos de eleição do próximo chefe do Governo, em 2017, foi lançado pelo movimento pró democrata "Occupy Central".
A implementação do sufrágio universal figura como o grande "cavalo de batalha" da ala pró-democrata da antiga colónia britânica.
O chefe do Governo de Hong Kong é escolhido por um colégio eleitoral formado por 1.200 membros, representativos dos diversos setores da sociedade, dominado por elites pró-Pequim.