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Ativistas e médicos alertam que crianças sírias estão a morrer à fome

Ativistas e médicos alertaram hoje que as crianças  nas zonas sitiadas em redor de Damasco estão a morrer à fome, quando milhares  de muçulmanos em todo o mundo assinalam o Id al-Adha, ou festa do sacrifício.

Crianças sírias fogem dos combates na zona de Aleppo / Reuters
© Stringer . / Reuters

Em algumas zonas, crianças morreram de subnutrição, de acordo com uma  organização não-governamental, e um responsável religioso disse à agência  noticiosa francesa AFP que autorizou o consumo de carne de cão e de gato.

Para os muçulmanos, o Id al-Adha é uma festa em que as crianças recebem  roupas novas, e brincam com amigos depois de partilharem refeições festivas  com as famílias.  

Em várias zonas detidas pelos rebeldes, há meses sob o cerco das forças  governamentais, a sul e leste de Damasco, ativistas disseram que já não  há comida e os médicos não têm meios para tratar de doentes.  

"Claro que não há Id al-Adha para as crianças daqui", em Moadamiyet  al-Sham, um subúrbio a sudoeste de Damasco, disse o ativista Abu Malek.

"Para elas, o Id al-Adha acontece quando veem um prato de arroz e bulgur  (trigo)", disse à AFP através da Internet.  

Os residentes de Moadamiyet al-Sham sobrevivem à base de ervas e alguns  vegetais que plantam em pomares e pelas ruas, disse um outro ativista Abu  Hadi, acrescentando que há meses que não chega pão à zona.  

Colher os alimentos é uma atividade perigosa "e várias pessoas já morreram  em pomares por causa dos bombardeamentos", disse.  

O diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), Rami  Abdel Rahman, afirmou que muitas crianças em Moadamiyet al-Sham apresentam  sinais de subnutrição.  

"As crianças são as que estão pior por precisarem dos nutrientes adequados  ao crescimento. Os adultos podem sobreviver com aquilo que encontram", disse.

Para alguns, a ajuda chegou esta semana, quando o Comité Internacional  da Cruz Vermelha (CICV) e o Crescente Vermelho sírio retiraram 3.500 pessoas  de Moadamiyet al-Sham, com o consentimento das autoridades.  

Apenas crianças, mulheres e idosos foram autorizados a sair. Os feridos  ficaram para trás e os trabalhadores humanitários impedidos de aceder à  zona.  

"Há muitos mais, incluindo crianças, que ficaram na cidade", disse Magne  Barth, diretor da delegação do CICV na Síria.  

A situação é igualmente má para as crianças em outras zonas rebeldes,  perto de Damasco.  

"Todos os dias, nas emergências, cada quatro de dez doentes que vejo  são crianças subnutridas", afirmou Abu Mohammad, um médico que trabalha  numa clínica de campanha na zona de Marj, a leste da capital síria.  

"Muitas crianças têm pressão arterial muito baixa, cansaço, tonturas  e um índice muito baixo de glóbulos brancos. As mais afetadas pela falta  de alimentos são as crianças com menos de dois anos", sublinhou.  

Um campo de refugiados palestinianos em Yarmuk, a sul de Damasco, é  também uma das zonas mais afetadas depois de se ter transformado num campo  de batalha, nos últimos meses.  

"Nada, nem mesmo pão tem chegado aqui nos últimos 96 dias", disse o  ativista sírio-palestiniano Ali Abu Khaled.  

 

Lusa

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