Saúde Mental

Segurança Social sem resposta para adolescente com graves problemas de saúde mental

Um jovem de 15 anos, que já tentou acabar com a própria vida diversas vezes, está internado há três meses na pediatria apesar de o Tribunal de Família e Menores de Lisboa já ter pedido para a Segurança Social arranjar uma solução.

SIC Notícias

Um adolescente com problemas graves de saúde mental está internado, há mais de três meses, na pediatria do Hospital de Gaia porque a Segurança Social não encontra uma resposta adequada. O jovem, que no último ano e meio passou por várias urgências públicas e clínicas particulares, já atentou contra a própria vida, na enfermaria onde está internado. Alerta-se para o teor muito sensível desta reportagem.

Os pais de Cris, chamemos-lhe assim, contaram 20 as vezes que o filho de 15 anos se mutilou no último ano e meio. O primeiro episódio aconteceu no dia 17 de abril de 2022, o dia e que o jovem ingeriu vários comprimidos.

Depois disso, Cris atentou contra a própria vida de diversas maneiras, conta a própria mãe. Vários episódios de automutilação foram tratados em quatro hospitais públicos: Estefânia, Amadora-Sintra, Vila Nova de Gaia e Santa Maria.

Neste último era acompanhado em pedopsiquiatria desde março do ano passado e onde acabaria por estar internado durante o mês de janeiro para recuperar da ingestão de um produto corrosivo.

O extenso diagnóstico clínico

A nota de alta enunciava um diagnóstico extenso: Hiperatividade e distúrbio de atenção, perturbação da personalidade borderline, perturbação depressiva e ansiedade, comportamentos autolesivos, múltiplas tentativas de suicídio e disforia de género.

Foram tantas as vezes que o INEM interveio, que a comissão de proteção de crianças e jovens sinalizou o adolescente.

Posteriormente, encaminhou-o para um centro de acolhimento temporário de emergência, em Lisboa, de onde saltou, acabando mais uma vez nas urgências.

Sem retaguarda à saída de cada episódio agudo, os pais acabaram por recorrer a instituições privadas. Uma em Alcobaça e outra em Valadares, nos arredores de Vila Nova de Gaia.

Clínica reconheceu não ter condições para continuar internamento

A 7 de abril, a diretora clínica da Cleanic reconheceu que não tem condições para continuar o internamento de um jovem que atentou várias vezes contra a sua vida e, perante uma agudização do estado psiquiátrico, recomendou a estabilização com caráter urgente, em unidade psiquiátrica protegida e segura, sem a qual seriam postas em risco a sua saúde mental e a vida.

O relatório foi feito um dia depois do adolescente ter sido socorrido nas urgências de Vila Nova de Gaia, com queimaduras de isqueiro. A mãe diz que Cris não foi visto por um pedopsiquiatra após este episódio.

As queimaduras há muito que sararam, mas há três meses que Cris permanece na pediatria do Hospital, apesar de o Tribunal de Família e Menores de Lisboa já ter pedido por duas vezes para a Segurança Social arranjar uma resposta adequada.

O Tribunal de Família e Menores de Lisboa, onde o caso está desde este último internamento, proibiu a mãe de visitar o filho sem uma terceira pessoa presente. A mãe explica que automedicou o filho numa crise de ansiedade na enfermaria e que, numa segunda situação, forneceu, sem querer, um objeto cortante ao filho.

O processo judicial é reservado

O processo judicial é reservado e há semanas que a defesa dos pais tenta, sem sucesso, consultar os autos. Na sequência da notícia, publicada este domingo no jornal Público, onde o caso era relatado, a juíza proibiu o Hospital de Gaia de prestar qualquer informação e ordenou, uma vez mais, que insistisse com a Segurança Social para encontrar uma vaga.

Contactado pela SIC, o Centro Materno Infantil do Norte garante que há vagas e que nunca deixou sem reposta pedidos de internamento.



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