Papa Francisco

"Inaceitável": Papa Francisco condena queima do Alcorão

O líder da Igreja Católica pede que a liberdade de expressão não seja usada como “desculpa para ofender outros” e defende que o futuro deve ser construído em conjunto, "ou não haverá futuro".

GUGLIELMO MANGIAPANE

SIC Notícias

Lusa

O Papa Francisco considera que a recente queima do Alcorão em Estocolmo é um acontecimento "inaceitável" e "condenável" e pediu que a liberdade de expressão não seja usada como "desculpa para ofender outros".

Numa entrevista exclusiva ao jornal estatal dos Emirados Árabes Unidos Al Ittihad, publicada esta segunda-feira, o Papa afirma: "Permitir isso [queima do Alcorão] é inaceitável e condenável (...). A liberdade de expressão não deve ser usada como desculpa para ofender os outros (...). A nossa missão é transformar o sentido religioso em cooperação, fraternidade e obras tangíveis do bem", afirmou.

Na entrevista, o Papa referiu-se ao documento Fraternidade Humana para a Paz Mundial e a Coexistência Comum, que assinou em fevereiro de 2019 com o xeque da mais importante instituição do islamismo sunita (Al Azhar), Ahmed al Tayeb, durante a visita aos Emirados Árabes Unidos.

"Agora precisamos de construtores da paz, não de fabricantes de armas, não de instigadores de conflitos (...). Precisamos de bombeiros, não de incendiários, precisamos de defensores da reconciliação, não daqueles que ameaçam a destruição", disse.

De acordo com o jornal, o Papa acrescentou: "Ou a civilização da fraternidade ou a inimizade retrógrada (...). Ou construímos o futuro juntos ou não haverá futuro".

No dia 28 de junho, primeiro dia da celebração do Eid al Adha, um homem de origem iraquiana queimou páginas de uma cópia do livro sagrado em frente à Grande Mesquita de Estocolmo, durante uma manifestação autorizada pelas autoridades suecas que contou com a presença de cerca de 200 pessoas.

Este ato foi condenado popular e oficialmente no mundo árabe e islâmico e países como Arábia Saudita, Marrocos, Jordânia e Emirados Árabes Unidos chamaram os embaixadores suecos dos seus respetivos países.

O secretário-geral da Liga Árabe, Ahmed Abulgueit, responsabilizou a Suécia por permitir o ato e alertou-a sobre os "resultados e consequências deste hediondo incidente"

No domingo, o Ministério das Relações Exteriores da Suécia condenou a queima das páginas do Alcorão, classificando o ato como "islamofobia".

Em comunicado, o Governo sublinhou que os "atos islamofóbicos cometidos durante os protestos na Suécia podem ser ofensivos para os muçulmanos".

Assim, "condenou fortemente" o ocorrido, ressalvando que os incidentes em causa não refletem as opiniões do executivo.

Não é a primeira vez que o Alcorão é queimado na Suécia

O militante de extrema-direita sueco-dinamarquês Rasmus Paludan queimou uma cópia do Corão à porta da embaixada turca em Estocolmo, no dia 21 de janeiro. Este ato que provocou protestos do Governo turco.

Na altura, a Turquia apelou às autoridades suecas para impedir esta ação, que acabou por ser autorizada, uma vez que não viola a lei sueca, refere a agência de notícias espanholas Efe.

Antes do episódio, a Turquia convocou o embaixador sueco em Ancara, Staffan Herrström, para protestar contra esta ação e cancelou uma visita que estava prevista para a semana seguinte do ministro da Defesa sueco à capital turca.

Durante a queima de uma cópia do livro sagrado dos muçulmanos, que durou cerca de uma hora e foi transmitido nos meios de comunicação social, Rasmus Paludan defendeu o seu direito à liberdade de expressão, atacou o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, a política de migração sueca e exibiu um desenho que retratava ironicamente a sexualidade do profeta Maomé.

Rasmus Paludan, um advogado dinamarquês que também tem nacionalidade sueca, tornou-se há alguns anos um fenómeno nas redes sociais na Dinamarca devido às suas polémicas queimas do Alcorão em bairros de imigrantes.

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