Svitlana pede para terem calma. Chama-os de filhos. Sabe o nome de cada um dos cães que está aqui. É recebida com tanto fervor, como se os animais soubessem que foi ela que lhes salvou a vida.
A correspondente da SIC na Ucrânia, Iryna Shev, teve de esperar que se acalmassem para poder conversar com Svitlana, que contou que quando começou a invasão em larga escala e as pessoas começaram a fugir, muitos deixaram os animais para trás. E ela recolheu alguns e andou a alimentar outros.
“Cozinhava umas papas, não tinha muita ração, e andava por aí a alimentar os animais. Depois os militares começaram a traze-los para cá. Os nossos rapazes, onde estão de serviços, não conseguem deixar lá os cães”, revela.
Muitos dos cães que os militares trazem têm problemas de saúde. Vivem num espaço à parte e contam com os cuidados constantes de Larissa, ajudante de Svitlana.
Sem dinheiro para todos os medicamentos que precisam, as duas mulheres fazem o melhor que conseguem e sobrevivem à conta daquilo que angariam online.
São responsáveis por mais de 300 cães. E cada animal tem aqui a sua história. Bilka, por exemplo, foi trazida por soldados ucranianos de Avdiivka, na altura em que as forças russas começaram a intensificar as operações de ofensiva. É desconfiada, foi trazida ferida. Já recuperou a 100% e aos poucos vai-se dando a conhecer.
Na altura em que a SIC gravou esta reportagem, o espaço albergava também 30 gatos e estava sobrelotado. O canil fica em Myrnohrad, junto de Pokrovsk. As duas cidades fazem parte das ambições das forças russas no Donbass.
“Mesmo que eu consiga levar os animais todos daqui, eu não me vou poder ir embora. Caramba, não quero chorar. Não me vou embora porque e os animais abandonados, quem os vai alimentar? (…) Não gosto de pessoas, gosto de animais”.
“Vou continuar a salvá-los, até ao fim”
Pouco depois da gravação, a situação piorou drasticamente, tendo sido emitido um alerta de evacuação. A cidade está a ser arrasada. Svitlana, que está a retirar os animais do canil, descreve uma situação de desespero:
"A situação na cidade está muito complicada. Está sob constantes ataques. Fomos obrigados a retirar a maior parte dos nossos animais, mas ainda temos muitos aqui. Por isso eu, por enquanto, continuo aqui. Vou continuar a salvá-los até ao fim. Continuamos a precisar de muita ajuda, para comprar o novo abrigo, para onde vamos poder levar todos os nossos animais".
Svitlana diz que não vai sair até salvar cada um dos animais que ficou para trás. As forças russas estão a menos de três quilómetros.