Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito: os russos olham cada vez mais para Sul

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Germano Almeida

Dez pontos semanais para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós.

1 – ATAQUE MORTÍFERO A ODESSA CONFIRMA AGRESSÃO RUSSA TAMBÉM NO SUL

Duas crianças estão entre os 18 mortos após ataque de mísseis russos em Odessa. Ataque noturno com mísseis da aeronave estratégica Tu-22 do Mar Negro no distrito de Belgorod-Dniester, na região de Odessa, com três mísseis X-22 que atingiram um prédio de apartamentos e um centro recreativo. Dezoito vítimas foram identificadas, incluindo duas crianças, e 31 pessoas foram hospitalizadas, incluindo quatro crianças e uma mulher grávida.

Entretanto, o controlo ucraniano da Ilha das Serpentes é dado importante no controlo do Mar Negro, mas perda russa pode não ser definitiva.

No que resta na batalha do Donbass, a Rússia garante controlar refirnaria em Lysychansk. Moscovo alega ter capturado uma refinaria em Lysychansk; última grande cidade na região de Lugansk que não foi conquistada pelas forças russas; ofensivas “em quatro direções”.

Tropas russas estão a espalhar minas em Lysychansk, diz líder militar regional ucraniano; estas minas – apelidadas de “pétalas” – são extremamente perigosas, já que “podem ser implantadas em qualquer lugar, e qualquer criança ou civil que tenha saído em busca de ajuda humanitária pode pisá-las e morrer ou ficar mutilado”; bombardeamento da cidade está a acontecer “constantemente” dia e noite, acrescentou Serhiy Hayday, governador de Luhansk.

2 – NAVIO COM 7.000 TONELADAS DE CEREAIS ZARPOU DE BERDIANSK, PORTO UCRANIANO CONTROLADO PELOS RUSSOS

Foi a primeira vez que tal aconteceu desde que a cidade foi tomada pelas tropas de Moscovo. O destino serão “países amigos” da Rússia.

Em Kherson, as forças pró-russas que ocupam ilegalmente o território preparam referendo sobre integração na Rússia. Kirill Stremousov, um dos líderes do governo apoiado pela Rússia em Kherson, disse à Reuters que ainda não foi escolhida a data para a votação popular, mas que espera que o referendo ocorra no “próximo semestre”.

3 – CHINA VÊ ALARGAMENTO DA NATO COMO “CAUSA” DA GUERRA

A China aponta que a guerra é consequência de alargamentos da NATO. Pequim considerou na ONU que a agressão da Rússia na Ucrânia tem origem na expansão da NATO para o leste europeu e critica NATO por ter “mentalidade da Guerra Fria” e acusa G7 de “semear a divisão”.

Muito por posições destas, aprofunda-se a cooperação entre EUA, Coreia do Sul e Japão, num passo que poderá indicar uma “versão asiática da NATO”

Ainda assim, China “não dá apoio material” à invasão russa, garante alto funcionário norte-americano

4 – ONU FALA EM 16 MILHÕES DE UCRANIANOS EM RISCO HUMANITÁRIO

Quase metade da população ucraniana precisa de assistência humanitária — água, comida, serviços de saúde, de teto e proteção (o número real deve ser ainda maior). Dezasseis milhões de ucranianos estão em risco humanitário, outros 5,3 milhões fugiram do país. Talvez isso nos ajude a explicar outro dado: 89% dos ucranianos rejeita cedência de território a troco de paz negociada com Rússia; 53% acredita que exército ucraniano vai expulsar russos dos territórios ocupados (sondagem Wall Street Journal).

A Rússia está a usar mísseis de pouca eficácia de antigos “stocks” soviéticos em mais de 50% nos seus ataques na Ucrânia; isso está a levar a uma perda significativa de vidas civis; ataques russos na Ucrânia mais que duplicaram nas últimas duas semanas.

5 – PUTIN AINDA QUER “QUASE TODA A UCRÂNIA”

Putin mantém o objetivo de controlar a “maior parte da Ucrânia”, garante alto funcionário dos serviços secretos dos EUA: “Continuamos numa posição em que olhamos para o Presidente Putin e pensamos que tem, efetivamente, os mesmos objetivos políticos”, relatou Avril Haines, diretora da National Intelligence e ex-Conselheira de Segurança Nacional adjunta, no tempo da presidência Obama.
As agências americanas preveem três cenários do conflito num futuro próximo. A possibilidade de um grande avanço russo ou a estabilização das linhas da frente pela Ucrânia são dois das hipóteses em cima da mesa. Mas a alternativa que consideram mais provável é um conflito “esmagador” no qual as forças russas obtêm apenas ganhos crescentes, mas nenhum avanço em direção ao objetivo de Putin.

6 – BORIS JOHNSON ALERTA QUE VITÓRIA RUSSA SERIA “ABSOLUTAMENTE CATASTRÓFICA”

Boris Johnson a pôr o dedo na ferida: “Ajudar a Ucrânia é algo que a América historicamente faz e tem que fazer, e isso é intensificar a paz, a liberdade e a democracia; e se deixarmos Putin escapar impune e apenas anexar, conquistar partes consideráveis de um país livre, independente e soberano, que é o que ele está prestes a fazer… então as consequências para o mundo são absolutamente catastróficas.”

Muito idêntica é a posição da sua chefe da diplomacia: “É absolutamente imperativo que garantamos a derrota da Rússia na Ucrânia”, aponta Liz Truss. “A minha mensagem é muito forte: temos de derrotar a Rússia primeiro, e negociar depois. E é imperativo para o bem da segurança, liberdade e democracia europeias. É a única maneira de alcançarmos uma paz duradoura na Europa. Negociações enquanto as tropas russas ainda estão na Ucrânia trariam uma falsa paz e levariam a mais agressões no futuro. Temos de aprender as lições do passado, as falhas do protocolo de Minsk, por exemplo, para garantir uma paz duradoura.”

7 – JOHNSON IMPÔS-SE A MACRON

Antes do G7, o primeiro-ministro britânico advertiu o Presidente francês contra a tentação de negociar uma solução na Ucrânia com risco de prolongar a “instabilidade mundial”.

Todo o registo dominante no G7 e da cimeira da NATO reforçou a visão britânica e muito menos a francesa: vigorou o apoio incondicional à Ucrânia e ficou ainda mais reduzido o espaço para uma “cedência” a Putin.

8 – G7 QUER MOBILIZAR MAIS DE 550 MILHÕES DE EUROS PARA PAÍSES EM DESENVOLVIMENTO

Em resposta aos imensos projetos financiados pela China, o G7 decidiu, na reunião na Alemanha, avançar com 600 mil milhões de dólares até 2027 para investimentos globais em infraestruturas. Sobre este investimento do G7 num programa mundial de infraestruturas, a presidente da Comissão Europeia anunciou que a Europa vai avançar com 300 mil milhões de euros

9 – CANADÁ REFORÇA DEFESA DO BÁLTICO

O Canadá enviou dois navios de guerra para o Mar Báltico e o Atlântico Norte, juntando-se a um par de fragatas já na região na tentativa de reforçar o flanco leste da NATO.

Os navios canadianos Kingston e Summerside estarão em missão de quatro meses como parte de “medidas de dissuasão na Europa Central e Oriental”, lançadas em 2014, após a anexação russa da Crimeia. Até outubro, os navios participarão em exercícios navais de desminagem manterão uma “alta prontidão”, permitindo que “respondam de forma rápida e eficaz em apoio a quaisquer operações da NATO”. O HMCS Halifax e Montreal estão programados para retornar ao porto em julho da Operação Reassurance – que atualmente é a maior implantação do Canadá no exterior.

A missão também inclui cerca de 700 soldados canadianos na Letónia com capacidades de artilharia e guerra eletrónica, bem como várias aeronaves militares.

10 – “TEMOS ESPERANÇA DE QUE TODAS AS MÃES RUSSAS VENHAM A SENTIR O MESMO QUE NÓS”

É uma das frases que mais ressoaram no que foi a análise desta semana na guerra russa na Ucrânia. Quem a disse foi a mãe de uma rapariga que trabalhava no centro comercial em Kremenchuk e está desaparecida desde o criminoso ataque russo com dois mísseis.

“Temos esperança de que todas as mães russas venham a sentir o mesmo que nós”. Foi dita à reportagem do Pedro Miguel Costa e do Odacir Júnior.

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