Guerra Rússia-Ucrânia

Compreender o conflito (XIV): pausa estratégica ou dificuldades reais?

Artigo de Germano Almeida, comentador SIC.

Germano Almeida

Cinco pontos para percebermos o que está a acontecer no Leste da Europa – e o que pode mudar na vida de todos nós:

1 – PAUSA ESTRATÉGICA ANTES DE NOVA ESCALADA.

As tropas russas não lançaram grandes operações ofensivas terrestres contra Kiev, Kharkiv ou Mykolayiv nas últimas 24 horas. O que pode isso significar? O Instituto para o Estudo da Guerra, ‘think tank’ e organização de pesquisa política com sede nos EUA, alerta: as forças russas na Ucrânia podem ter entrado numa pausa operacional, possivelmente breve, enquanto se preparam para retomar as operações contra Kiev, Kharkiv, Mykolayiv e possivelmente Odessa nas próximas 24-48 horas. Não estão, no entanto, afastadas as suspeitas de que as forças russas estão a enfrentar inesperadas dificuldades logísticas e operacionais.

2 – “SAIAM DA RÚSSIA!”

As ameaças de Putin e as ações russas na Ucrânia estão a fazer com que a tensão entre Moscovo e o Ocidente se intensifique. Americanos e britânicos pedem aos seus nacionais para saírem imediatamente da Rússia. Somam-se os casos de possível perseguição a cidadãos de EUA e outros países aliados em território russo. Na sequência dos acontecimentos das últimas horas, os Estados Unidos pediram aos cidadãos norte-americanos para deixarem a Rússia de imediato. O Reino Unido também pediu aos cidadãos britânicos que vivem na Rússia para deixarem o país. Boris Johnson divulgou um plano de seis pontos em reação à invasão da Ucrânia pela Rússia e está pedindo a outros líderes que o endossem nos esforços para garantir que a Rússia falhe em sua aparente tentativa de assumir seu vizinho democrático. A proposta do primeiro-ministro britânico não envolve aliados ocidentais em ação militar com a Rússia.

3 – UM ESPIÃO NAS NEGOCIAÇÕES.

Morte de negociador ucraniano que seria espião russo e falhanço de tentativas de assassinato de Zelensky reforçam ideia de que governo Zelensky está muito bem dotado de serviços de informação eficazes. Um dos negociadores da delegação ucraniana, que participou na primeira ronda de negociações entre Ucrânia e Rússia, morreu este sábado. A notícia da morte foi inicialmente avançada pela imprensa ucraniana e mais tarde confirmada pelo Ministério da Defesa ucraniano. A Direção-Geral de Informações do Ministério refere que Denys Kireev foi um de três elementos dos serviços de informação ucranianos morto “durante o desempenho de tarefas especiais. Surgem relatos na imprensa ucraniana que dão conta que Kireev, banqueiro de profissão, seria um espião ao serviço do Kremlin que terá cometido um crime de traição, tendo, por isso, sido assassinado pelos serviços de segurança ucranianos durante uma tentativa de detenção, à qual terá tentado resistir. Entretanto, o Presidente da Ucrânia terá sido alvo de três tentativas de assassínio na semana passada levadas a cabo por grupos de mercenários do Kremlin e das forças especiais da Chechénia. De acordo com o “The Times”, os dois grupos que supostamente tentaram matar Zelensky eram formados por elementos da organização de mercenários russos Wagner e membros de um comando das forças paramilitares especiais chechenas. As operações foram alegadamente neutralizadas por agentes dos próprios serviços de informações russos (FSB) contrários à invasão da Ucrânia.

4 – CONVERSAS E POSSIBILIDADES DE MEDIAÇÃO.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, reuniu-se com o primeiro-ministro israelita para abordar o encontro entre Naftali Bennett e o Presidente russo, Vladimir Putin, numa tentativa de mediação do conflito na Ucrânia. A conversa de 90 minutos “concentrou-se nos resultados da reunião que o primeiro-ministro israelita teve com Vladimir Putin”. Foi acordado manter contacto próximo sobre esta questão, permanecendo como objetivo comum acabar com a guerra na Ucrânia o mais rápido possível. Biden e Zelensky falaram, entretanto, meia hora ao telefone. O Presidente dos EUA destacou as ações em andamento empreendidas pelos Estados Unidos, seus aliados e parceiros e a indústria privada para aumentar os custos para a Rússia por sua agressão na Ucrânia. Zelensky saudou em particular a decisão desta noite da Visa e da Mastercard de suspender o serviço na Rússia. Biden sublinhou que o seu governo está a contribuir para a segurança, a assistência humanitária e económica para a Ucrânia e está a trabalhar em estreita colaboração com o Congresso para garantir financiamento adicional.

5 – O AVISO AMBÍGUO DE PEQUIM.

O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês pediu negociações para resolver a crise na Ucrânia e lançou pedido em jeito de aviso ao homólogo norte-americano: “Não lancem mais achas para a fogueira”. A China quis, assim, dizer que vê com maus olhos uma intervenção mais direta dos EUA na guerra da Ucrânia, o que reforça a tese de uma proximidade, ainda que nunca assumida, entre a posição de Pequim e os interesses da Rússia. Wang Yi, chefe da diplomacia do governo de Xi Jinping, disse ao secretário de Estado dos EUA, Tony Blinken, que a China pretende mais negociações para resolver a crise na Ucrânia, bem como conversas sobre a criação de um mecanismo de segurança europeu “equilibrado”. Num telefonema realizado ontem, o diplomata chinês disse ainda que os EUA e a Europa devem prestar atenção ao impacto negativo que a expansão da NATO para o leste tem para a segurança da Rússia. Blinken aproveitou a conversa para pressionar a China a ser mais crítica com a Rússia. Ou seja: os americanos querem que a China seja um fator de dissuasão junto de Moscovo; os chineses pretendem que os americanos deixem de ser um fator de oposição aos russos. O telefonema entre os dois chefes de diplomacia concentrou-se no conflito “premeditado e injustificado” provocado pela Rússia, disse o Departamento de Estado dos EUA. Blinken aproveitou a oportunidade para lembrar a Wang que “o mundo está atento para saber quais as nações que defendem os princípios básicos de liberdade, autodeterminação e soberania” e fez notar que o mundo está a agir “em uníssono” para responder à agressão russa.

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