Este domingo, a Bielorrússia aprovou, em referendo, uma nova Constituição que abandona o estatuto não nuclear do país, num momento em que a ex-república soviética se tornou uma plataforma de lançamento de tropas russas para invadirem a Ucrânia, dizem agências de notícias russas.
Bielorrússia, potência nuclear?
As agências citam a comissão eleitoral central da Bielorrússia e dizem que 65,2% dos eleitores votaram a favor da alteração constitucional, que agora faz o país abandonar o estatuto de não nuclear.
O resultado positivo para o regime não se trata de uma surpresa, dado o modelo de Governo rígido e controlado do Presidente Alexander Lukashenko.
A nova Constituição permite, assim, a existência de armas nucleares em solo bielorrusso pela primeira vez desde que o país as abandonou, após a queda da União Soviética, e num momento em que Minsk desempenha um papel intermediário entre a Rússia e a Ucrânia.
No domingo, Lukashenko disse que poderia pedir à Rússia que devolvesse armas nucleares à Bielorrússia.
“Se transferirem (o Ocidente) armas nucleares para a Polónia ou Lituânia, nas nossas fronteiras, então recorrerei a [Vladimir] Putin para devolver as armas nucleares que dei sem quaisquer condições”, referiu.
Atualmente, apenas nove países possuem o estatuto de nação nuclear: Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel.
Reforço do estatuto presidencial
O documento legal reforça, igualmente, poderes à Assembleia Popular bielorrussa, criada por Lukashenko e ocupada por membros leais ao regime.
Também a imunidade processual vitalícia ao Presidente, após deixar o cargo, passa a ficar prevista em lei com o recente ato eleitoral.
Oposição interna e europeia
O Ocidente refere que não reconhecerá os resultados do referendo, por se realizar num contexto de ampla repressão governamental – de acordo com ativistas de direitos humanos, existem mais de mil presos políticos na Bielorrússia. O referendo provocou protestos anti-guerra em várias cidades e, pelo menos, mais 290 pessoas foram detidas, acrescentam.
A líder da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya, que se encontra exilada após as eleições presidenciais bielorrussas de 2020 – que muitos acusam de fraudulenta, pediu aos bielorrussos que usassem a votação para protestar contra a invasão russo-ucraniana.
Nas redes sociais, surgem várias fotografias e diversos vídeos que mostram grupos de pessoas a reunir-se em assembleias de voto para protestar contra as ações de Moscovo, mas também a continuação das mesmas manifestações durante a noite.
Belarusians are chanting “Glory to Ukraine” and “Long live Belarus” from the windows of their apartments. Today’s protest continued even at night. We all feel the same feeling of unity as in 2020. pic.twitter.com/aBlZ9Kcscd
— Franak Viačorka (@franakviacorka) February 27, 2022