Queda do BES

Banco de Portugal esclarece ativos que passam para Novo Banco

O Novo Banco pode vir a assumir o pagamento de dívida emitida pelo Grupo Espírito Santo (GES) até ao final do primeiro semestre deste ano, desde que documentalmente comprovada, apesar de a responsabilidade por esta ficar no bad bank. Em comunicaco, o Banco de Portugal esclareceu ontem que o Novo Banco fica com os depósitos e créditos dos bancos de Miami e Líbia, bem como os créditos que têm a Tranquilidade como garantia. Os familiares de ex-responsáveis do BES têm de provar direito aos depósitos. Quanto ao banco mau, já não pode receber depósitos, conceder crédito, e está sujeito a outras "medidas de intervenção corretiva".

MARIO CRUZ

"Clarifica-se que quaisquer obrigações, garantias, responsabilidades  ou contingências assumidas na comercialização, intermediação financeira  e distribuição de instrumentos de dívida emitidos por entidades que integram  o Grupo Espírito Santo permanecem no Banco Espírito Santo", lê-se na nota. 
  
No entanto, refere o supervisor e regulador bancário, esta decisão tem  uma exceção e o Novo Banco pode "vir a assumir" o pagamento de parte da  dívida subscrita até final do primeiro semestre deste ano.  
  
O regulador diz isto na nota divulgada segunda-feira, quando refere  que a responsabilidade do reembolso da dívida pertence ao 'bad bank' BES,  mas que tal acontece "sem prejuízo de o Novo Banco vir a assumir eventuais  créditos não subordinados resultantes de estipulações contratuais, anteriores  a 30 de junho de 2014, que estejam documentalmente comprovadas nos arquivos  do BES em termos que permitam o controlo e fiscalização das decisões tomadas". 
  
Nos últimos tempos, tem sido questionado a quem caberá reembolsar a  dívida emitida por empresas do GES vendidas ao balcão do BES, com clientes  a virem a público a afirmarem que vão recorrer ao Tribunal para serem ressarcidos  do dinheiro investido.  
  
Nas contas do primeiro semestre do BES, em que o banco apresentou prejuízos  históricos de 3,6 mil milhões de euros, é dito que a 30 de junho havia 3,1  mil milhões de euros de títulos de dívida emitidos por empresas do GES e  subscritos por clientes do Grupo BES.  Destes, 2 mil milhões de euros tinham sido tomados por clientes institucionais  e 1,1 mil milhões de euros por particulares.    

Banco mau já não pode receber depósitos e conceder crédito  

 

No que refere ao bad bank, o conselho de administração do banco central  proibiu a "concessão de crédito e de aplicação de fundos em quaisquer  espécies de ativos, exceto na medida em que esta aplicação de fundos se  revele necessária para a preservação e valorização do seu ativo".  

O referido banco mau é também alvo de dispensa, pelo prazo de um ano,  "da observância das normas prudenciais aplicáveis e do cumprimento pontual  de obrigações anteriormente contraídas, exceto se esse cumprimento se revelar  indispensável para a preservação e valorização do seu ativo, caso em que  o Banco de Portugal pode autorizar as operações necessárias".  
  
O banco mau ficou com os ativos e passivos tóxicos  do antigo BES e, apesar de se continuar a chamar BES, não tem licença bancária  e está em liquidação. É também no bad bank que ficam os cerca de 30 mil  acionistas do BES, que deverão perder tudo ou quase tudo.  
  
Já no banco bom, o chamado Novo Banco, ficaram os ativos e passivos  considerados não problemáticos do ex-BES, recebendo esta nova instituição  financeira uma capitalização de 4,9 mil milhões de euros através do Fundo  de Resolução bancário.  
 

Novo Banco fica com depósitos e créditos dos bancos de Miami e Líbia 

Os depósitos e créditos do Espírito Santo Bank  (Miami, Estados Unidos) e do Aman Bank (Líbia) ficam no Novo Banco, tal  como aconteceu com o BES Angola, de acordo com a decisão hoje comunicada  pelo Banco de Portugal.   O objetivo é "não prejudicar as operações comerciais  e bancárias entre o Novo Banco e as entidades em causa".  
  
No entanto, acrescenta-se, não são transferidas "quaisquer responsabilidades  ou contingências para o Novo Banco que tenham origem naquelas instituições",  sobretudo as que sejam "decorrentes de fraude" ou que violem as disposições  do regulador.  
 

Novo Banco assume créditos que têm Tranquilidade como garantia  

O Banco de Portugal esclareceu também que são transferidos  para o Novo Banco os direitos de crédito do BES sobre a Espírito Santo Financial  Group e que estão garantidos pelo penhor da seguradora Tranquilidade.  No comunicado, o banco central refere que cabe ao bad bank receber o  crédito que o BES concedeu a empresas  do Grupo Espírito Santo (GES), "com exceção daqueles que se incluem no perímetro  de consolidação do Grupo BES e daqueles que estão relacionados com seguradoras  supervisionadas pelo Instituto de Seguros de Portugal".

Ainda assim, o supervisor e regulador bancário refere que o Novo Banco  fica com o direito de ser reembolsado do crédito do BES sobre a holding  Espírito Santo Financial Group (ESFG, ex-acionista maioritário do BES e  empresa do GES) e que tem como garantia "o penhor financeiro da Companhia  de Seguros Tranquilidade".  

Este ano, o Banco de Portugal obrigou a ESFG a fazer uma provisão para  garantir o reembolso da dívida emitida pela Rioforte e Espírito Santo International,  empresas do GES. Como garantia, soube-se depois, foi dado como penhor a  seguradora Tranquilidade.  
  
Familiares de ex-responsáveis do banco têm de provar direito aos depósitos 

O Novo Banco vai obrigar familiares de ex-responsáveis  e de acionistas qualificados do BES a comprovarem o direito aos depósitos  que detinham no banco e que ficaram 'congelados' no bad bank. De acordo com o Banco de Portugal,  essa prova terá de ser feita em função da atividade profissional, nível  de rendimentos e montante depositado.  
Na sua nota, o Banco de Portugal (BdP) afirma que são definidos os procedimentos  a adotar pelo Novo Banco (que ficou com os ativos e passivos considerados  não problemáticos do BES) relativamente aos "fundos depositados por cônjuges,  parentes ou outros familiares" de ex-responsáveis do BES e acionistas qualificados  do banco a comprovarem que esses fundos "lhes pertence efetivamente".  
  
O Banco de Portugal diz que o Novo Banco deve fazer essa prova tendo  em conta "as atividades profissionais das pessoas em causa, o seu grau de  dependência em relação às pessoas e entidades referidas (...), o seu nível  de rendimentos e o montante depositado", comprovação que "deve ser documentada". 

 

Com Lusa
  
      

 

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