A noite eleitoral norte-americana será, previsivelmente, longa e carregada de incertezas. A combinação de uma contagem de votos demorada, possíveis recontagens e alegações de fraude poderá atrasar o anúncio do resultado final. Além disso, o impacto destas eleições terá reflexos diretos nas relações internacionais, especialmente com a União Europeia, que acompanha com grande expectativa a escolha do próximo Presidente dos Estados Unidos.
De acordo com o analista político Francisco Cordeiro Araújo, a contagem dos votos nesta eleição norte-americana será demorada, "É um processo que será bastante longo. Além de imprevisibilidade do resultado, há imprevisibilidade de a que horas sabemos e se sabemos durante o dia de hoje".
"Com os votos dos condados rurais, tendencialmente republicanos, a serem contabilizados primeiro. Por isso, é natural que os republicanos comecem a corrida eleitoral mais à frente e depois mais tarde, quando conseguimos contar os grandes centros urbanos, predominantemente democratas e mais complexos de processar, poderá surgir um equilíbrio nos números, criando oscilações significativas ao longo da noite".
Além disso, o voto por correspondência — tendência crescente desde a pandemia — poderá também ter impacto sobre a rapidez da contagem.
"Estes votos têm de ser verificados com rigor, podendo ser necessários processos de confirmação de identidade ou até mesmo recontagens, e esse processo pode ser ainda mais moroso".
Alegações de fraude eleitoral: um obstáculo adicional
Outro fator que poderá atrasar a confirmação do resultado final é a crescente retórica de fraude eleitoral promovida pelos republicanos, especialmente por Donald Trump, que já em 2020 contestou o resultado invocando irregularidades.
"Donald Trump será sempre alguém que jogará essa carta tendo ou não fundamento. O historial dele assim o demonstra, não admitindo a derrota nas eleições, invocando fraude eleitoral em 2020".
O analista político lembra a eleição de 2000, entre George W. Bush e Al Gore, que se arrastou por várias semanas devido à necessidade de recontagens e intervenções legais na Florida, estado crucial para o desfecho eleitoral.
A atenção da União Europeia às eleições americanas
O mundo também está de olhos postos nestas eleições, nomeadamente a União Europeia, dada a influência da liderança norte-americana nas relações globais.
O analista político refere que os dois candidatos representam políticas externas e ideologias opostas:
"Por um lado, temos uma Presidente que segue a linha de Joe Biden, mais internacionalista, que acredita que os Estados Unidos devem ter um papel de liderança no mundo, com presença não só de investimentos, mas também uma presença de apoio militar e um esforço de alianças. Joe Biden tentou voltar a agregar alianças não só dentro da NATO, não só com com a União Europeia, mas também no Pacífico".
Quanto a Donald Trump, "defende medidas protecionistas e que afetarão não só a China, mas poderão também afetar relações com a União Europeia" e com impactos diretos em temas como as alterações climáticas e os acordos comerciais.