As autoridades do Irão bloquearam um jornal digital considerado próximo da fação reformista a menos de duas semanas do aniversário da morte violenta da jovem Mahsa Amini, que desencadeou fortes protestos na República Islâmica.
O bloqueio foi anunciado pelo próprio jornal digital Entekhab nas redes sociais, segundo a agência espanhola EFE.
"O acesso à Internet do entekhab.ir foi bloqueado há alguns momentos, na sequência de uma ordem de proibição do sítio Web emitida pela Câmara de Controlo da Imprensa do Governo", declarou o jornal.
A agência noticiosa Fars, próxima da Guarda Revolucionária, afirmou que o jornal digital foi bloqueado devido a um editorial intitulado "Leilão da marca Irão: porque é que a política externa do Irão está tão enfraquecida".
A decisão ocorreu dias depois de um tribunal de Teerão ter condenado duas jornalistas a três anos de prisão, com grande parte da pena suspensa, por conspiração e conluio.
Elnaz Mohammadi, do diário Hamamihan, e Negin Bagheri, do jornal Haft-e Sobh, terão de cumprir de um mês da pena em detenção, segundo os advogados de defesa.
O resto da pena será suspenso durante cinco anos, período durante o qual terão de frequentar cursos de ética profissional e não poderão sair do Irão.
Os meios de comunicação social iranianos não explicaram a razão das sentenças, mas Elnaz Mohammadi cobriu a morte de Amini e os protestos que se seguiram.
Elnaz é irmã de Elahe Mohammadi, uma jornalista que cobriu o funeral de Amini na sua cidade natal de Saqez, no Curdistão, e que está a ser julgada por esse motivo.
Elahe Mohammadi foi acusada de "colaboração com o governo hostil dos Estados Unidos, conluio contra a segurança nacional e propaganda contra o sistema" por ter feito a cobertura do funeral.
As acusações podem implicar a pena de morte se for condenada, segundo ativistas dos direitos humanos.
Na mesma situação está Nilufar Hamedi, a jornalista que expôs o caso de Amini e que foi acusada dos mesmos crimes que Mohammadi, estando a aguardar sentença.
Segundo o Comité para a Proteção dos Jornalistas, quase uma centena de jornalistas e fotógrafos foram detidos por terem feito a cobertura das manifestações no Irão, dos quais 72 foram libertados sob fiança.
Morte violenta de Masha Amini
Masha Amini, uma jovem curda de 22 anos, morreu depois de ter sido detida pela polícia da moral por alegadamente violar o código de vestuário rigoroso imposto pela República Islâmica.
A morte da Amini desencadeou manifestações em todo o Irão que foram reprimidas com violência.
Centenas de pessoas foram mortas durante os protestos, incluindo dezenas de elementos das forças de segurança.
Milhares de manifestantes foram igualmente detidos, acusados pelas autoridades de participarem em motins fomentados por Israel, o inimigo declarado do Irão, e pelos países ocidentais.
Os meios de comunicação social locais informaram recentemente que mais de 90 jornalistas foram detidos ou interrogados desde as manifestações.