Confrontos no Irão

Polícia iraniana dispara contra multidão durante homenagem a Mahsa Amini

A morte da jovem provocou a maior onda de protestos dos últimos três anos no Irão.

Anadolu Agency

SIC Notícias

Lusa

As forças de segurança iranianas dispararam hoje contra manifestantes reunidos na cidade natal de Mahsa Amini,Saghez. A jovem morreu depois de detida pela polícia da moralidade, numa cerimónia de homenagem ao fim dos tradicionais 40 dias de luto.

"As forças de segurança dispararam gás lacrimogéneo e abriram fogo contra as pessoas na Praça Zindan de Saghez", relatou o grupo de direitos dos curdos Hengaw, sediado na Noruega, no Twitter.

Desafiando um aparelho de segurança reforçado e a gritar "mulher, vida, liberdade" ou "morte ao ditador", uma multidão de homens e mulheres reuniu-se desde cedo em torno do túmulo da jovem no cemitério de Aichi, em Saghez, a cidade natal de Mahsa Amini, no Curdistão, no oeste do Irão, segundo vídeos publicados nas redes sociais.

Hoje, o 40.º dia após a morte de Mahsa Amini, marcou o fim do tradicional período de luto do Irão.

Na noite de terça-feira, as autoridades reforçaram o seu dispositivo em Saghez, mobilizando forças numa praça central e o acesso à cidade foi limitado.

De acordo com ativistas dos direitos humanos, as forças de segurança tinham advertido os pais da jovem contra a realização de uma cerimónia de homenagem na sua sepultura, chegando a ameaçar "a vida do filho".

Apesar disso, as pessoas começaram na madrugada de quarta-feira a chegar ao cemitério, onde, segundo a agência de notícias iraniana Fars, se terão reunido cerca de duas mil pessoas, mas imagens publicadas online por ativistas e defensores dos direitos humanos mostraram grandes multidões.

Morte de Mahsa Amini

Mahsa Amini, de 22 anos, foi detida a 13 de setembro e morreu três dias depois de ter sido presa em Teerão pela Polícia dos Costumes por, alegadamente, ter violado o rigoroso código de vestuário da República Islâmica, onde os véus são obrigatórios para todas as mulheres em espaços públicos, o que desencadeou um conjunto de manifestações e uma onda de indignação internacional.

A repressão dos protestos desencadeados pela morte de Mahsa Amini já deixou pelo menos 141 mortos, incluindo pelo menos 23 crianças, segundo um novo número revelado terça-feira pela ONG iraniana de Direitos Humanos (IHR), com sede em Oslo.

Novos protestos estavam a decorrer noutros pontos do Irão, incluindo em universidades de Teerão, Mashhad, no nordeste, e Ahvaz, no sudoeste, segundo o jornal 'online' 1500tasvir, que relata os abusos dos direitos humanos atribuídos às forças de segurança.

O que é a polícia de moralidade?

A polícia de moralidade faz parte das forças policiais iranianas e constitui uma unidade policial especial que faz cumprir as regras rigorosas em matéria de vestuário aplicáveis às mulheres, nomeadamente o uso obrigatório de um lenço na cabeça.

Segundo a UE, a Polícia da Moralidade tem recorrido a força ilícita contra as mulheres por estas não cumprirem as leis iranianas respeitantes ao hijabe e a atos de violência sexual e baseada no género, prisões e detenções arbitrárias, violência excessiva e tortura.

Hoje, o Irão anunciou sanções contra indivíduos, instituições e órgãos de comunicação social da União Europeia, em resposta às medidas punitivas impostas por Bruxelas contra os líderes iranianos e a polícia de moralidade.

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