A SIC falou com um padre no ativo que já foi julgado e condenado por abusos sexuais de menores de 11 e 12 anos. A paróquia em que o padre exerce funções confia no “bom senso” do sacerdote para que não se repitam os acontecimentos.
É numa paróquia de Santarém que está em funções o sacerdote condenado em 2015 por atos sexuais com menores. Um ano após a condenação foi novamente nomeado vigário. Em declarações à SIC, o padre António Júlio Santos diz que se arrepende todos os dias pelo que fez.
António Santos foi notícia há uma década e o então padre da Golegã era detido pela Polícia Judiciária por suspeita de dois crimes de abusos sexuais de menores. As vitimas eram duas meninas de 11 e 12 anos.
O primeiro abuso ocorreu num acampamento de escuteiros numa noite em que o padre terá decidido quebrar as regras e dormir numa das tendas entre duas menores.
O segundo crime, uma semana depois, durante uma visita com um grupo de jovens à Feira da Golegã.
António Santos sentou-se no banco dos réus e negou sempre intenção sexual nos seus atos. Em 2015, o Tribunal de Santarém considerou credíveis e esclarecedores os depoimentos das vítimas e condenou o padre a um ano e dois meses de prisão, mas com pena suspensa.
Os juízes não aplicaram nenhuma medida de restrição.
Contactada pela SIC, a diocese de Santarém começou por explicar que houve um processo canónico, mas mais tarde corrigiu a dizer que houve uma investigação prévia enviada à Santa Sé e que resultou num processo administrativo penal.
A diocese esclarece apenas que esse processo teve conclusão em janeiro de 2016 e que não foram aplicadas penas perpétuas.
De facto, seis meses depois já estava a ser nomeado pelo anterior bispo de Santarém como vigário paroquial de uma vila. Em julho de 2021 foi promovido a administrador paroquial de Almoster, Póvoa da Isenta e Vale de Santarém, onde se encontra atualmente.
A SIC tentou falar com fiéis da paróquia de Vale de Santarém, mas sem sucesso. A diocese garante, no entanto, que o padre foi bem recebido pela comunidade.
Aparentemente, foi “mais misericordiosa do que a comunicação social” e, em relação ao perigo de contacto com menores, fonte do bispado
diz que espera sempre "bom senso" por parte do sacerdote.
António Júlio Santos já esperava ter novamente o foco das atenções, depois de ter saído o relatório da Comissão Independente que estudou os abusos sexuais na Igreja.
A condenação de 2015 permanece no cadastro de António Santos e, por lei, o nome do padre faz parte da lista de mais de 6000 pedófilos condenados em Portugal.
Uma entrevista que a SIC emite no dia em que três padres, cujos nomes constam da lista elaborada pela Comissão Independente, foram afastados de funções pelas dioceses. Falamos de dois sacerdotes nos Açores - “um sacerdote de São Miguel e outro da ilha Terceira” -, e outro de Évora, suspeito de abusos no Seminário Menor da cidade, na década de 80.
“Depois da vergonha e do escândalo que a revelação da existência de abusos provocaram junto da sociedade, em geral, e dos cristãos em particular, é tempo de ação”, assume a Diocese açoriana.
Esta não é, porém, a prática adotada por todas as dioceses. Por exemplo, a posição do bispo da Guarda, D. Manuel Felício, é a de que só afastará um sacerdote suspeito de abusos, como é o caso do padre de Figueira de Castelo Rodrigo, se houver uma acusação formal da justiça.
[Notícia atualizada às 21:30]