Economia

Banco de Portugal melhora projeção de crescimento económico para 1,8% e espera recuo mais rápido da inflação

O Banco de Portugal atualizou as suas projeções e espera agora que a economia portuguesa cresça 1,8% este ano, depois de em dezembro passado ter apontado para 1,5%. Quanto à inflação, aponta para uma taxa média anual em 2023 de 5,5%, em vez de 5,8%.

TIAGO MIRANDA

Sónia M. Lourenço

Depois de crescer 6,7% em 2022, a economia portuguesa vai abrandar em 2023, mas o Banco de Portugal (BdP) espera que esse abrandamento seja menos marcado do que antecipava em dezembro passado. No Boletim Económico de março, publicado esta sexta-feira, aponta para um crescimento de 1,8% este ano, o que compara com a anterior projeção, de 1,5%.

Já para 2024, o BdP espera que a economia portuguesa avance 2%, tal como em 2025.

Tendo em conta estes números, “a economia portuguesa deverá continuar a convergir com a área do euro no horizonte de projeção”, escreve o BdP.

E explica que “o maior crescimento da atividade em Portugal reflete o dinamismo das exportações de serviços, a manutenção de ganhos de quota nos mercados externos, a retoma do investimento ― beneficiando do maior recebimento de fundos ― e o crescimento da produtividade total dos fatores, associado ao aumento das qualificações da população”.

Em contraste, “o consumo cresce mais moderadamente em Portugal do que na área do euro, condicionado pela maior exposição à subida das taxas de juro, devido ao peso expressivo dos empréstimos a taxa variável”, antecipa o banco central.

Inflação desce (ligeiramente) mais rápido

Quanto à inflação, o BdP diz que “deverá reduzir-se gradualmente". A expetativa do banco central é que recue de 8,1% em 2022 para 5,5% em 2023, em termos de média anual, tendo em conta o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor.

É um valor abaixo do projetado em dezembro passado, quando o BdP apontava para uma taxa de inflação média anual em 2023 de 5,8%. Ainda assim, significa que a inflação vai manter-se elevada este ano.

Depois, o banco central aponta para nova descida da inflação em 2024, para os 3,2%, e em 2025 para os 2,1%. Caso estas projeções se concretizem, isto significa que a inflação portuguesa em 2025 ainda estará ligeiramente acima da fasquia dos 2%, que é a referência do Banco central Europeu no seu mandato sobre a estabilidade de preços.

Melhorias ao longo de 2023

“Desde o final de 2022, tem-se registado uma redução dos custos das matérias-primas energéticas, contribuindo para uma melhoria nos termos de troca da economia e uma redução das pressões externas sobre os preços no consumidor”, lê-se no relatório.

Assim, o BdP antecipa que “o ritmo de crescimento do PIB deverá aumentar ao longo de 2023 e a inflação deverá reduzir-se de 8,4% no primeiro trimestre para 3,2% no quarto trimestre”.

Já para 2024 e 2025, “a dissipação dos constrangimentos nas cadeias de fornecimento, a redução da incerteza, a recuperação do rendimento real das famílias e o recebimento dos fundos europeus deverão contribuir para a aceleração do PIB”, projeta o banco central.

Mas alerta que essa evolução positiva será “parcialmente contrariada por condições financeiras mais restritivas”.

Ao nível da inflação, a “desaceleração dos preços externos deverá transmitir-se aos preços no consumidor de forma generalizada, implicando uma redução da inflação em 2024 e 2025”, aponta o relatório.

Contudo, o BdP deixa alguns alertas sobre a evolução dos preços: "Nos próximos trimestres, a descida da inflação assentará essencialmente na evolução dos preços dos bens energéticos e alimentares, mas a sua magnitude é incerta".

Ao mesmo tempo, a “moderação no aumento dos preços dos outros bens e serviços será mais lenta, devido a efeitos desfasados dos preços dos bens energéticos, à recuperação das margens de lucro e ao crescimento dos salários”.

Ora, “a persistência dos aumentos fortes de preços na área do euro, em particular nas componentes com preços menos voláteis, tem alimentado expetativas de uma política monetária mais restritiva ao longo do horizonte de projeção”.

Assim, “a taxa de juro de curto prazo considerada nas hipóteses do exercício ultrapassa 4% na segunda metade de 2023 e mantém-se acima de 3% no final do horizonte”, alerta o BdP. Lembra, contudo que, “face ao passado, o efeito da subida das taxas de juro é atenuado pela redução do endividamento do sector privado observada desde 2011, para rácios em percentagem do PIB próximos dos registados na área do euro”.

Acresce que, segundo o banco central, “as poupanças acumuladas pelos agentes económicos e a recuperação gradual dos sectores mais atingidos durante a pandemia contribuem também para mitigar o impacto da normalização da política monetária”.

Neste contexto, “o mercado de trabalho deverá manter-se robusto, projetando-se a manutenção do emprego em níveis elevados e ganhos de salário médio real, o que sustenta o rendimento disponível das famílias”, argumenta o BdP.

Ainda assim, espera uma subida da taxa de desemprego este ano, para os 7%, o que compara com 6% em 2022. Depois, aponta para um ligeiro recuo em 2024 e 2025, para os 6,9% e 6,7%, respetivamente.

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