Já são mais de 68 mil o número de trabalhadores dispensados por empresas do setor tecnológico em 2023 - isto é, em apenas um mês -, de acordo com a página Layoffs.fyi, que regista os despedimentos de várias empresas do setor em todo o mundo.
Uma das maiores empresas do mundo, e a maior tecnológica norte-americana em capitalização bolsista, a Apple, escapou, por ora, aos anúncios de despedimentos de milhares de trabalhadores. De acordo com os cálculos do Wall Street Journal, a razão para este desempenho passa pelo facto de ter contratado a um ritmo muito menor do que o das concorrentes, como a Microsoft ou a IBM, que já procederam a reestruturações.
Segundo o jornal, a Apple aumentou o seu quadro de pessoal em 20% entre 2019 e 2022. Trata-se de um ritmo de crescimento significativo, mas aquém dos 53% e 57% da Microsoft e da Alphabet, respetivamente; e muito menos da Amazon e da Meta, que duplicaram o número de trabalhadores na sua folha salarial desde 2019.
“Houve uma aceleração bastante grande de contratação, com um clima de crescimento e com medidas de estímulo bastante agressivas e a tendência de digitalização”, resume Steven Santos, diretor de corretagem do Banco BiG, ao Expresso.
A chamada normalização das taxas de juro, com subidas aceleradas das taxas diretoras pelos bancos centrais mundiais no espaço de poucos meses mudou as perspetivas de crescimento destas empresas para os próximos anos. “Agora está a haver um ajuste da estrutura de custos. As tecnológicas vão comparar os números atuais com os números bastante favoráveis que tiveram nesses anos de forte consumo digital”, explica.
Mas, vaticina, “quando a economia começar a dar sinais de recuperação, se existir algum recuo na subida de taxas de juro, que tem sido implacável, também rapidamente estas empresas voltam a contratar aos milhares. É uma realidade muito diferente em relação àquilo que vimos na Europa e na Ásia”, antecipa.
A última vez que a Apple fez um despedimento em massa foi em 1997, altura em que Steve Jobs, fundador e à época presidente executivo da produtora do iPhone - regressado depois de um hiato de dois anos ao leme de uma empresa então com problemas financeiros - dispensou 4100 funcionários, recorda o Wall Street Journal.
De acordo com o Layoffs.fyi, esta segunda-feira, 228 empresas de todo o mundo tinham despedido 68.502 funcionários desde o início do ano de 2023. Este número representa 43% dos trabalhadores dispensados em 1040 empresas de todo o mundo em 2022 - e num só mês.
As grandes responsáveis por este número foram incumbentes como a SAP, que despediu 3000; a IBM, que dispensou 3900; a Alphabet, dona da Google, e a Microsoft, que cortaram a sua folha salarial em 12 mil e 10 mil trabalhadores, respetivamente; e a Amazon e a Salesforce, com 8000 trabalhadores a menos cada uma.