Até aqui, as investigações sobre a identidade de Ferrante tinham sido limitadas ao universo e estilo literário da autora, mas o jornalista Claudio Gatti, do diário económico Il Sole 24 Ore, interessou-se pelos aspetos financeiros do mistério.
Gatti garantiu que não se trata nem de uma napolitana, nem de uma mãe costureira, como afirmou a escritora em "Frantumaglia": Elena Ferrante é Anita Raja, uma tradutora romana nascida em 1953, filha de um magistrado napolitano e de uma professora de alemão de origem polaca.
Para chegar a esta conclusão, o jornalista analisou os movimentos financeiros da Edizioni E/O, pequena editora romana que publica os romances de Elena Ferrante e com a qual colabora também Anita Raja.
De acordo com Gatti, os rendimentos da editora aumentaram 65% em 2014, ano em que as obras de Elena Ferrante se tornaram best-sellers em inglês, e e 150% no ano passado. Aumentos da mesma ordem aparecem nos rendimentos de Anita Raja.
Se este aumento é incompatível com uma atividade de "simples tradutora freelance", parece "perfeitamente coerente" com a evolução dos direitos de autor de Elena Ferrante, garantiu.
Contactada pela agência noticiosa France Presse (AFP), a editora recusou comentar.
A escritora, que se estreou na literatura na década de 1990, conquistou notoriedade internacional com a tetralogia napolitana "A Amiga Genial".
Nas raras entrevistas que concedeu, sempre por correio eletrónico, Elena Ferrante afirmou que o anonimato era necessário para dar mais peso às personagens e ao enredo. Alguns críticos também viram neste anonimato uma estratégia comercial.
Nos últimos anos, as especulações em torno da identidade não pararam de crescer. Ninguém sabe a idade ou conhece o rosto de Ferrante, e apesar dos vários nomes mencionados pela imprensa, nenhum foi confirmado.
A publicação da investigação de Gatti, nas edições de domingo, no Il Sole 24 Ore, New York Review of Books, Frankfurter Allgemeine Zeitung e no site Mediapart, desencadearam várias críticas a denunciar um atentado à vida privada da autora.
"Fi-lo por pensar que ela é uma figura muito pública e quando os leitores compram milhões de livros têm o direito de saber qualquer coisa sobre a pessoa que criou estes livros", disse Gatti à cadeia britânica BBC.
Em "Frantumaglia", que vai ser publicado nos Estados Unidos dentro de algumas semanas, ela forneceu alguns elementos apresentados como "respostas à exigência legítima de informações sobre ela", lembrou.
"O problema é que a obra Frantumaglia está cheia de inverdades, ela não se descreveu, ela mentiu sobre a vida pessoal que escolheu apresentar. Enquanto jornalista, não gosto de mentiras", explicou Gatti.
Lusa