Fidel Castro 1926-2016

A música deixou de se ouvir na efervescente Havana

Pouco antes da meia-noite de sexta-feira, a notícia da morte de Fidel Castro interrompeu as festas, esvaziou as ruas de Havana e paralisou a ilha que o "Comandante" moldou à sua imagem durante meio século, relata a agência noticiosa France-Presse.

Ramon Espinosa

"É com profunda dor que informo o nosso povo e os amigos das Américas e do mundo, que o comandante em chefe da Revolução cubana morreu às 22:29 esta noite (03:29 em Lisboa)", acabava e anunciar na televisão nacional o seu irmão Raúl Castro.

"Toda a gente ficou estupefacta, foi um momento muito triste", conta Yaimara Gomez, uma empregada do hotel Presidente em Havana.

Ao contrário dos numerosos falsos rumores no passado sobre a sua morte, desta vez o homem que a maioria dos cubanos conheceu como dirigente e que sobreviveu a mais de 600 tentativas de assassinato segundo os serviços de informações locais, acabava de morrer.

Dos cerca de 11,22 milhões de habitantes da ilha, calcula-se que 70% nasceu sob este regime comunista, que se mostrou implacável face às oposições. No entanto, uma larga parte da população permaneceu "fidelista", e identificada com as duas montras sociais do regime: saúde e educação.

"Perder Fidel é como perder um pai, um guia, o farol desta Revolução", declarou Michel Rodriguez, um padeiro de 42 anos que soube da notícia pela rádio. As autoridades cubanas decretaram hoje nove dias de luto nacional.

"Fidel Castro era o maior", asseverou por seu turno Aurora Mendez, que apesar dos seus 82 anos ainda trabalha num café na zona da velha Havana. Como muitos outros, foi surpreendida pela notícia ao início da manhã.

As circunstâncias do desaparecimento do líder cubano ainda não foram reveladas, Nos últimos anos, Fidel Castro recebia personalidades e dirigentes estrangeiros na sua residência no oeste de Havana. Em 2006 cedeu o poder ao seu irmão Raúl, após uma hemorragia intestinal.

Enquanto decorriam festejos em Miami, bastião dos exilados cubanos, Havana, uma cidade efervescente e onde a música é presença constante, silenciava-se progressivamente.

Marco Diaz, 20 anos, empregado numa oficina automóvel, divertia-se quando, de repente, a música parou. "Fidel morreu", escutou, e quando a noite se esvaziava. "Regressei a casa e acordei toda a gente: Fidel morreu. A minha mãe ficou de boca aberta", contou à France-Presse.

As ruas da capital e do célebre Malecón, a avenida que se prolonga junto ao mar, estavam vazias na manhã de sábado. A polícia também bloqueou o acesso à Praça da Revolução até 04 de dezembro e segundo um comunicado oficial "todas as atividades e espetáculos públicos" serão suspensos.

Enquanto a morte do "pai" da Revolução cubana se propagava pelo mundo durante a noite, os media locais, todos estatais, demoraram a reagir. Assim, o oficial Granma, diário do Partido comunista, apenas publicou a informação no seu 'site' cinco horas após o anúncio de Raúl Castro.

Lusa

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