Por Joana Fernandes (Texto) e Manuel de Almeida (Fotos), da Agência Lusa
Almada, Setúbal, 16 mar (Lusa) -- O bairro clandestino da Jamaica, no Seixal, onde vivem 800 pessoas à espera de realojamento, é há 20 anos um problema por resolver, à espera de um acordo entre a câmara (CDU), o Governo e o proprietário.
A vereadora da câmara para a Ação Social, Corália Loureiro, afirmou hoje durante uma visita de técnicos e autarcas ao bairro, que o espaço "terá uma solução".
"Mas é claro que a solução não pode passar só pela câmara municipal. Assumimos uma parte, a outra parte terá que ser o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana (IRHU) e o proprietário, que é quem tem aqui a responsabilidade maior".
A autarca acrescentou que "estão a ser feitos esforços", que "há um plano de pormenor aprovado para o local" e que "há uma reunião pedida ao IHRU, que já se mostrou disponível para ajudar a resolver a questão".
A história de Maria Teresa Vieira, 61 anos, ajuda a contar a história do bairro: "Toda a minha vida foi ocupar casas, para aqui vim há vinte anos. Fui das primeiras a ocupar. Vivo num apartamento na torre maior" constituída por sete andares de tijolo e cimento à mostra, envoltos numa instalação elétrica precária, rodeados por poças de esgotos.
Ali habitam mães e avós como Maria Teresa Vieira. Mãe de quatro filhos, três presos, avó de duas netas menores, a gerir "uma pensão de 70 euros mensais, mais 40 euros que o pai da mais pequena traz todas as semanas". Na casa desta mulher, e nas outras do bairro, diz, come-se "sempre o mesmo: frango guisado, que tem que dar para o almoço e para o jantar, e sopa, que dá para três dias. Há ratos em casa".
Os cerca de cinco hectares de terreno foram abandonados pelo proprietário no final dos anos 1980. Os prédios de hoje são os mesmos daquela altura, mas com famílias dentro. O banco executou uma hipoteca, o terreno mudou mãos e a ocupação ilegal foi feita nos anos 1990.
Depois disso, o bairro tem sido um problema por resolver. O espaço é um retângulo, ao fundo há um muro alto a delimitar. Os esgotos desembocam nas fundações dos prédios e estão no cheiro do bairro todo.
No pátio para onde estão viradas as casas há um parque infantil queimado pelo sol e praticamente destruído. O abastecimento de água e eletricidade é clandestino, ninguém paga contas. Contam-se dezenas de antenas parabólicas entre os tijolos.
Na perspetiva da autarquia, a solução do bairro é "demolir" e "realojar integrando", e o desejo é que isso aconteça até 2013.
A vereadora Corália Loureiro disse ainda aos jornalistas que, ao longo dos anos, e na medida do possível, "todas as pessoas" abrangidas por planos de realojamento em vigor foram realojadas.
Hoje, defendeu, "falta uma linha de apoio, de financiamento, da parte do Governo para que esta situação, e outras como esta, aqui e no país, possam ser resolvidas".
Pelo bairro, as vozes que se ouvem são de descontentamento.
A população diz que já ouviu "muitas datas" e "muitas promessas".
Em 2004 a câmara assinou um protocolo com a empresa proprietária dos terrenos em que se previa a demolição das torres e o realojamento dos moradores no ano seguinte.
Em 2009 foi aprovado o plano de pormenor para o local. A vereadora diz que espera ver a situação resolvida até 2013. Os moradores esperam. Ao menos há televisão por cabo.
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